FERNANDO RIBEIRO CONDUZIU A PRIMEIRA AMBULÂNCIA DO ANTIGO HOSPITAL CONCELHIO DE BAIÃO

Artur Fernando Ribeiro, hoje com 77 anos, foi um dos primeiros motoristas da ambulância que esteve ao serviço do então Hospital Concelhio de Baião, tendo percorrido milhares de quilómetros e socorrido centenas de pessoas do concelho.   Natural de Campelo e residente na Rua de Entreparedes, Fernando assumiu o cargo em 1974 e, já na altura, ficou conhecido como o motorista de chapéu, adereço que o acompanha ainda hoje. No hospital, tinha de estar disponível 24 horas por dia, fazendo transporte de doentes para consultas no Porto e emergências nas freguesias do concelho de Baião. “Às vezes estava a chegar a casa e tinha de voltar ao serviço”, recorda Fernando Ribeiro em declarações ao jornal “O Comércio de Baião”. Por estradas nacionais e sem o conforto de hoje em dia, Fernando levava cerca de um hora e meia a chegar aos hospitais do Porto, para onde iam os doentes mais graves e as grávidas prestes a dar à luz. Nos muitos anos dedicados ao trabalho, Fernando recorda o nascimento de um bebé na ambulância. “Fui buscar a parturiente e tinha a mãe dela e a sogra para irem comigo. Apesar de recusar levar as duas, depois de insistirem lá deixei, porque me convenceram que se fosse necessário ajudavam”, recorda Fernando, contando que “não ajudaram nada”. O bebé apressou-se a nascer e teve de ser Fernando a compor a mãe e o filho de forma a chegarem com algum conforto ao hospital. “Como não deu para chegar à maternidade Júlio Dinis, no Porto, para onde iam as parturientes de Baião, dei entrada com a mãe e filho no hospital em Penafiel”, conta Fernando, pois o bebé nasceu a caminho do Porto, no concelho de Penafiel. Muitos foram os serviços que marcaram o motorista do hospital, que recorda bem quando teve de ir buscar uma grávida que teve trigémeos. “Fui buscar a mãe ao meio do monte. Quando cheguei um dos gémeos já vinha meio nascido, mas conseguimos chegar ao hospital e todos sobreviveram”, recorda. Fernando ia quase sempre sozinho fazer a assistência a acidentes e a outras doenças. Valia-lhe a formação que teve na tropa no hospital militar. “Nos acidentes pegava nas pessoas e iam de qualquer forma. Tive na tropa no hospital militar e tinha alguma formação, mas não é nada do que se faz hoje”, disse Fernando, que começou a trabalhar aos 13 anos, numa vacaria na vila de Baião”. “Pensava e ordenhava as vacas para vender o leite. Ia de casa em casa e a minha companhia era a vaca, que era mansinha e esperava por mim enquanto eu entregava o leite”, contou. Fernando Ribeiro foi sempre um cidadão ativo, tendo feito parte da formação dos Bombeiros de Baião, do Rancho Folclórico de Baião, onde foi membro da direção e dançarino, e ainda é tesoureiro da Cooperativa Agrícola de Baião. No seu percurso de vida, e resultado de “uma brincadeira”, foi presidente da extinta Junta de Freguesia de Campelo de 1993 a 2001. Assumiu o cargo como independente e fez grande aposta nas estradas da freguesia, permitindo a ida de veículo a locais anteriormente intransitáveis. Não fez campanha, porque não tinha dinheiro, mas tinha um placar com a sua face desenhada, que foi usado nas duas campanhas para as eleições autárquicas. Ainda hoje guarda o placar e recorda com sorrisos os tempos de político. “Nunca tive um voto contra nas minhas propostas, sempre tive tudo aprovado pela unanimidade”, relata com orgulho do trabalho feito. Na junta, Fernando foi um dos responsáveis pelo brasão da freguesia e ainda se debateu pelo símbolo do rio Ovil, que foi recusado da primeira vez. Lutas fazem parte da vida de Fernando, que foi uma das pessoas que esteve à frente do retomar das festas de São Bartolomeu em 1976/1977. “Com o 25 de Abril de 1974 acabaram com as festas de S. Bartolomeu e, um dia, fui ter com o padre Quim, que já estava cá na altura, para nos deixar fazer as festas. Ele deixou, mas apenas com um andor, o de São Bartolomeu, e decorado com flores, exigindo cravos vermelhos e não os tradicionais panos que eram usados até então. Aceitamos e fizemos as festas”, recorda Fernando Ribeiro, revelando que juntaram milhares de pessoas. “No ano a seguir o padre Quim deixou ir todos os andores, mas decorados com flores e não com os panos. Ainda hoje faço parte da comissão de festas em honra de S. Bartolomeu, mas hoje em dia com a ajuda da câmara municipal é mais fácil”. Fernando recorda os peditórios pela porta para as festas, dizendo que “as pessoas davam, mas para as festas como são hoje em dia não chegava”. A vida preenchida de Fernando Ribeiro, com o seu característico chapéu, fê-lo ser, em 2015, o protagonista do vídeo promocional do Rali de Portugal em Baião. Ao som da música “Vinho Verde”, Fernando seguia numa 4L, bem acompanhado, pelo troço do rali no concelho de Baião, onde se cruzava pelo também baionense e piloto de rali Vítor Pascoal. O vídeo, que promoveu a edição 2015 do Rali de Portugal, teve milhares de visualizações e foi um sucesso mundial. No final da prova, Fernando entrou na 4L e seguiu atrás do último carro da competição. Tudo combinado com a organização, mas que quase lhe valeu prisão, pois um dos militares da GNR que estava no local não tinha sido informado e quando viu a 4L no troço intercetou-a e deu voz de prisão a Fernando. “Chegou depois do carro vassoura e esclareceu tudo, foi a nossa sorte”, recorda com sorrisos. Momentos que ficam na sua memória e que o fazem rir e relembrar bons velhos tempos, com a certeza de que nada foi deixado por fazer. “Não me arrependo de nada do que fiz”, asseverou Fernando Ribeiro.