2025/09/19
José Manuel Chitas Lança, de 71 anos, e Maria Manuela da Conceição Monteiro, de 72, celebraram este verão as suas bodas de ouro, assinalando 50 anos de casamento.
O casal conheceu-se em Frankfurt, na Alemanha, há 53 anos, e desde então construiu uma história de amor que continua a emocionar quem a ouve e que, segundo José, só poderia mesmo ter começado na Alemanha:
“Se fosse em Portugal, provavelmente nunca nos tínhamos encontrado — eu sou de Marateca, no sul, e ela de Loivos da Ribeira, no norte, lugares tão distantes um do outro”, explicou.
Quis o destino que se cruzassem em Frankfurt e, num gesto simples, nasceu algo maior: “Ajudei-a a atravessar uma rua muito movimentada, dei-lhe a mão por causa do trânsito… e naquele instante senti logo que era ela”, relembra.
O destino voltou a uni-los numa manhã de domingo, durante a missa das 9h00, na igreja onde Manuela costumava ir, junto ao asilo de idosos onde trabalhava. No momento da oração da paz, quando se virou para dar a mão a um casal de idosos que se sentava habitualmente no banco atrás do dela, deu de frente com José. “No fim da missa, quando ela saiu, pôs a mão no meu braço e disse: ‘Eu saio às três’. Foi assim que começou a nossa história de amor”, recorda emocionado.
Namoraram dois anos e, a 26 de julho de 1975, casaram na igreja de Loivos da Ribeira. José nunca pediu formalmente a mão de Manuela, porque, como explica, “senti-me sempre tão bem-recebido pela família que percebi que não era preciso. Sabia que tínhamos sido feitos um para o outro.”
Na altura do casamento, Manuela deixou-lhe palavras que ficaram gravadas para sempre:
“Doenças, estou ao teu lado. A pobreza não me assusta. Borracheiras, e porrada, levas um pontapé no traseiro e vais para a tua mãe.”
Cinco décadas depois, José resume este amor numa frase simples e eterna: “Adoro-te para sempre.” Já Manuela recorda a emoção e acrescenta: “Ele perguntou-me agora, depois de celebrarmos os 50 anos: ‘Queres vir comigo sonhar os próximos 50?’.”
Assim, as palavras que ela lhe disse há meio século continuam vivas, sustentando um amor que resistiu ao tempo, às distâncias e às provações. Um amor que começou na Alemanha, cresceu em Loivos da Ribeira e que hoje, 50 anos depois, ainda se escreve todos os dias — com a mesma mão estendida e o mesmo abraço de sempre.
Para assinalar esta data tão especial, José Manuel Chitas Lança decidiu colocar em palavras aquilo que sente desde o dia em que conheceu Maria. Fê-lo através de duas cartas que mais parecem poemas, onde mistura recordações, reflexões sobre o tempo e declarações de amor.
Em seguida, transcrevemos na íntegra essas cartas, nas quais José revisita o passado e lança também um olhar cheio de esperança para o futuro:
(Primeira)
“Há 25 anos confirmava-te que o nosso casamento era um grande amor, dizendo-te que recordar e viver.
Quando recordar é viver...
Pedi a deus a felicidade... e ele pôs-te no meu caminho.
Agora mesmo estou a olhar para trás e a ver quando te vi pela primeira vez.
Desde então, és o centro dos meus pensamentos, que não se limitam a dizer o que és para mim.
Viver contigo sempre foi fácil.
Viver é conseguir ouvir as árvores respirarem.
É conseguir ouvir o que uma floresta silenciosa murmura.
É como se não houvesse o céu e a terra, mas só o infinito e a harmonia.
Nunca deixar esmorecer aquele amor que nos uniu tem sido o segredo da nossa vida.
os anos têm passado! mas envelhecer não é só tornar-se fraco. É também crescer!
Nós temos 3, 15, 37, 45 anos, e fazerem todas as idades parte de nós. Já as vivemos todas uma vez, já sabemos como é.
Gostamos de ser como as crianças, quando se pode ser criança.
Gostamos de ser sensatos, quando é apropriado sermos sábios.
Nós conseguimos que há nossa volta e até “para as pessoas de fora" se sinta o apoio, o amor, a atenção e o cuidado de uma família. Sem isto, não se tem muito na vida pois nada neste mundo a pode substituir, porque sem amor somos aves com as asas quebradas.
Sabes o que realmente sempre te satisfez?
Dar aos outros o que te é possível dar. Não estou a pensar em dinheiro, penso em tempo, cuidados e conversação.
Se na terra existirem anjos, tu és decerto um deles.
Pois quando precisam de ti, não sabes dizer não!
Amo-te
(Segunda)
Hoje, 52 anos e meio, depois de te conhecer festejamos 50 anos de casados!”
“50 anos de casados estão aí e foram intensamente vividos!
Há 50 anos, o Padre Serafim, quando nos casava disse-me: “Levas uma menina” … eu tenho a ousadia de completar: uma menina que sonhava com uma família de pais, filhos e netos, todos ao redor uns dos outros.
Os sonhos de uma família assim estão conseguidos.
Eu atrevo-me, aqui e agora a perguntar: queres vir comigo e sonhar os próximos 50 anos?
…
Então vamos.”