2024/11/08
Albertina Rosa Teixeira, hoje com 81 anos de idade, natural de Ovil, onde reside no lugar de Barreiros, abraçou a profissão de Sacristã, no ano de 1997, conjuntamente com o marido, já falecido. Em face da idade que vai avançando, deixou de exercer as funções no mês de janeiro do corrente ano, passando o “testemunho” a Eva Cerqueira.
Numa pequena conversa que mantive mos com Albertina Rosa Teixeira, que nos recebeu de portas abertas na sua casa, o que, desde já agradecemos, contou-nos que desde a catequese frequentou sempre a igreja “Ainda era o padre Francisco, ou padre Chico, como lhe chamavam e sempre acompanhei tudo o que se passava na igreja”, afirmou Albertina Teixeira. Questionada sobre o objetivo que nos levou a falar com ela, o de saber como chegou a Sacristã da Igreja, disse-nos “O Sacristão era o senhor Teixeira, sobrinho do senhor padre Francisco, casou com a sobrinha dele, e esteve muitos anos ele e a esposa. Depois ela adoeceu e foi para o Porto para os filhos, ele ficou sozinho e já tinha uma certa idade, como eu andava por aqui, quando era preciso ajudar em alguma coisa, deitava-lhe a mão, lavava os paninhos lá da igreja, ajudava a armar umas bandeiras e outras coisas que são precisas fazer”, revelou-nos Albertina Teixeira.
Entretanto o Sacristão Manuel Teixeira, cansado de estar sozinho resolveu ir para junto da mulher no Porto “Então um dia, como eu e o meu marido éramos amigos dele, veio à beira do arco da igreja, onde o meu marido estava, e disse-lhe assim: senhor Ernesto, eu amanhã vou para o Porto, que a minha mulher está lá doente, o senhor vai-me ficar com a chave da igreja. Ele disse, eu fico, faço o que for preciso, mas o senhor Teixeira, quando puder venha. Ele respondeu, pronto, de pois vimos isso”.
Ficaram assim com a chave da igreja, em 1997 “E continuámos a abrir a porta, como foi no mês de maio, abríamos a porta à noite para rezar o terço e também aos domingos, tocávamos o sino, e o senhor Teixeira nunca mais veio”, disse.
Até que, um determinado dia já no tempo do padre Quim “Veio aqui à nossa casa, e disse: olha Ernesto, venho falar contigo, e aqui com a Albertina, para vocês fica rem a tomar conta da igreja, porque o senhor Teixeira não vem mais. Então o meu Ernesto, disse-lhe, oh senhor padre Quim, eu tenho o meu trabalho. Não faz mal, mas a tua mulher resolve, ela já está habituada a resolver o que for preciso, disse-lhe o senhor padre”. E assim foi “Ficámos com o encargo às nossas costas, entretanto o meu marido reformou-se, e lá ficámos enquanto ele viveu, até 2008”.
Com o falecimento do marido em 2008 e numa altura em que Albertina Teixeira foi de carro com o padre Quim para levar os paramentos e tudo o que era preciso da igreja para a Festa em honra de S. Pedro, em Outoreça e, já no regresso, a Sacristã abordou o abade no sentido de arranjar alguém para a sua substituição. Mas a resposta veio de pronto “não senhora, a Albertina faz o mesmo serviço que tem feito até agora, e é capaz de o fazer ainda durante muitos anos”.
E assim se passaram mais 16 anos “Olhe e ficámos a envelhecer os dois ao mesmo tempo. Ele é mais novo, mas nunca tive mos problemas, entendemo-nos sempre muito bem, eu com ele, ele comigo, estava tudo bem, tudo deu certo, até que chegou a altura de me afastar”. Entretanto no ano passado o padre Quim foi-se embora, tendo vindo substitui-lo, no mês de setembro senhor padre Mário João.
“Eu ainda estava lá, e ainda continuei até ao fim de janeiro deste ano. Este ano, apercebi-me que já não estava em condições de fazer as coisas, e então disse ao senhor padre, que me ia despedir por que já não estava em condições de tomar conta sozinha do cargo”, referiu.
O padre Mário João, aceitou a sua decisão e anunciou na igreja que a Sacristã Albertina Teixeira ia deixar o cargo “Foram todos muito simpáticos comigo, as pessoas fizeram-me uma festa bonita, com um lanche, e até lhe vou contar uma história disso. O senhor padre Quim, trouxe-me uma rosa vermelha, muito bonita, e trouxe-a com muito gosto, pu--la num jarrinho na minha mesinha de cabeceira, esteve ali mais de um mês, até secar. Então, quando secou, tenho ali as pétalas num saquinho, penduradas, meti o pé num vaso, rebentou e ganhou duas hastes que já deram duas rosas grandes, muito bonitas”, contou satisfeita.
Voltemos um pouco atrás, para tentar saber se as funções de Sacristã exigiam muito trabalho e também muita responsabilidade “Ora bem, bastava a responsabilidade dos horários das missas, de tocar o sino, as marcações das intenções das missas, era tudo comigo, eu é que marcava as missas e tratava da agenda dos serviços que apareciam. Até ao dia em que apareceu o senhor Azevedo, que estava no Porto, e veio para cima, foi ter comigo à sacristia, e ofereceu os seus préstimos para ajudar afirmando estar disposto a fazer o que fosse preciso. Eu até lhe disse, olhe, estava bom para to mar conta do meu lugar, de Sacristão. Ao que ele respondeu, eu para isso não, mas no que for preciso eu ajudo”,relatou Albertina Teixeira, aceitou de imediato a ideia e distribuiu-lhe a tarefa de ficar a tomar conta da agenda “Então vai-me fazer o favor e vai ficar com a agenda, e vai tomar conta das missas. A partir daí, ele começou no princípio da eucaristia, a nomear as intenções por quem era a missa, o que não era hábito fazer-se, tem o grupo coral, e colabora em tudo o que é preciso lá da igreja”.
Sobre a questão de tocar os sinos, quisemos saber como é que se desenrascava “No tempo do senhor Teixeira, que era ele e a esposa a senhora Miquinhas, havia um arame ligado ao badalo do sino grande, que para dar as trindades era de baixo. A corrida era em cima, mas não sei bem como era nessa altura. Depois foram feitos os sinos de novo, com madeira nova e aquilo ficou um bocado diferente. Ele ia lá, nós também, eu e o meu marido, também fomos muitas vezes tocá-lo à mão à torre. Quer dizer, eram dois sinos e uma sineta. Eram três e cada um tinha a sua corda no badalo. Se fossem duas pessoas um tocava dois, e outro tocava um. Os toques são diferentes, uns para funerais, outros para festa, outros para a corrida, quando falta uma hora para começar a missa e outro para a picada a avisar que falta meia hora para iniciar, que é feita no sino médio. Muitos anos foram tocados manualmente. Quando depois modernizaram, puseram os sinos automáticos e agora já se toca na sacristia, tem o botãozinho, carrega-se e lá faz a música que se deseja. Também se consegue controlar à distância, eu conseguia tocar aqui de minha casa e não precisava de ir à igreja”, informou. Para além daquilo que foi dito, geriu ainda a capela mortuária “Sim, a casa mortuária, veio muito depois. O senhor presidente da Junta, fez questão de deixar a chave, aqui em minha casa, porque as pessoas já estavam tão habituadas a lidar comigo que mais depressa me telefonavam a mim do que ao padre ou ao coveiro. Isto porque ligavam para mim e já sabiam que eu falava com o coveiro, e que falava com o senhor Padre. Como tinha a chave, nesta altura dos Santos, abria a porta por causa da casa de banho, que as pessoas vêm ao cemitério e precisam dela. Como fazia essas coisas todas as pessoas já vinham ter comigo. O senhor Padre Mário, disse que não tinha nada a ver com a capela mortuária, que isso não era com ele”.
Albertina Teixeira, tem boas memórias dos 27 anos, que esteve, sobretudo, a coadjuvar o pároco Manuel Joaquim Ribeiro “Umas coisas, se calhar melhores, ou tras, piores, assisti a muitos casamentos, muitos batizados, muitas comunhões, muitos funerais. Fazia aquilo que era preciso fazer. Tinha que ter sempre tudo direitinho para o senhor padre quan do chegasse, os paramentos que iam ser usados naquele dia, lá estavam posto em cima do balcão para ele vestir ou pen durados lá numa cruzeta. Tudo que fiz sempre foi com gosto. Se voltasse atrás no tempo, continuava a fazer o que fazia. Fazia a mesma coisa, se calhar melhor se pudesse ser. Nunca tive com o senhor padre Quim a mais pequenina coisa que desse para nos aborrecermos, ele cola borava com tudo, concordava com tudo. Eu também concordava com ele e por isso, correu sempre tudo às mil maravilhas. Estou na reforma, bem preciso, não sei até quando, mas será certamente até quando Deus quiser. Quando Deus qui ser, eu também quero”, recordou. Por fim disse não se lembrar de momen to de qualquer história que lhe tenha acontecido, frisando apenas que foi sem pre muito corajosa e nunca teve medo de nada, adiantando ainda que “Foram uns anos cheios, de boas disposições, de alegrias, de trabalho. Mas eu lá esquecia tudo. Não me lembrava de nada fora da igreja. As pessoas também me estima vam, vinham ter comigo, pediam-me explicações para aquilo que fosse preciso. Fui sempre bem aceite, dava aquilo que fosse preciso, o que soubesse informava e ajudava”, concluiu.
Por mera coincidência, encontramo-nos lá com Eva Cerqueira, nem mais nem me nos, a pessoa que ficou a substituir na função de Sacristã, Albertina Teixeira, que amavelmente acedeu a trocar connosco algumas palavras. Ficamos a saber que Eva Cerqueira, tem 56 anos de idade, é casada, é natural do vizinho concelho de Amarante, mas, já há vários anos, que mora no lugar da Devesa, em Ovil, relativamente perto da Igreja.
Disse-nos que começou a trabalhar na igreja no dia 1 de fevereiro de 2024, apesar de já ajudar a D. Albertina Teixeira, no tempo do padre Quim, o que contribuiu bastante para ficar no cargo, dizendo que “Estou a gostar muito, está a correr tudo bem. Sempre que preciso de ajuda venho aqui recorrer à D. Albertina, que me esclarece algumas dúvidas que às vezes tenho. Ela escreveu um caderninho, com indicações, quando tenho alguma incerteza, venho perguntar-lhe”, afirmou.
Frisou ser importante fazer a vontade às pessoas “é um trabalho que, no fundo, também é para toda a comunidade da paróquia e para as pessoas que estão fora. É preciso vir com gosto mesmo para receber as pessoas. E sempre que elas querem uma coisa, eu faço-lhe a vontade, hoje em dia, cada vez são mais exigentes. São bem mais, temos que lhe fazer a vontade. Não se pode afastar as pessoas da igreja”, sublinhou.
“Está bem entregue. E eu gosto muito de a lá ver. E ela faz tudo o que eu fazia e que lhe ensinei, tenho a certeza que encontrou muitas coisas que, se fosse ela, não as tinha assim. É evidente. É mais moderna, é mais nova. Põe as coisas no seu lugar. Eu não punha, a idade não permitia”, interveio na conversa, Albertina Teixeira.
Por estas palavras podemos concluir que o testemunho foi bem passado, ou melhor à pessoa certa, que está à altura e preparada para desenvolver a sua função na igreja. À nova Sacristã o Jornal “O Comércio de Baião”, deseja-lhe as maiores felicidades