O Biscoito de Chelo é um doce regional, procedente do lugar que lhe dá o nome, uma pequena localidade situada em Gosende, na Freguesia do Gove. Trata-se de uma receita “com mais de 15 anos” inspirada no Biscoito da Teixeira, mas com o cunho pessoal de Fátima Ribeiro, a grande produtora do Biscoito de Chelo, que neste ‘projeto’ conta com a ajuda dos filhos, Sofia Pereira e Pedro Pereira.
“Durante muitos anos andou às voltas pela vizinhança uma receita do Biscoito da Teixeira. Vários vizinhos tentavam recriar o doce, mas como cada pessoa fazia à sua maneira, acabava por nunca ficar fiel ao original. Há mais ou menos 15 anos, essa receita chegou até mim, já com algumas modificações, e desde então, conforme fui confecionando, também eu fiz as minhas alterações, no entanto, a meu gosto e não com a intenção de plagiar o Biscoito da Teixeira. Acrescentei alguns ingredientes, tirei outros, preparei de diferentes maneiras, até que, há cerca de dois anos, decidi que já não era preciso mexer mais. Tinha encontrado a minha receita”, começou por nos esclarecer Fátima Ribeiro, de modo a esmiuçar a curiosidade sobre a origem do Biscoito de Chelo.
Sofia Pereira conta que cresceu ‘lado a lado’ com o biscoito “ao longo destes anos, eu e o meu irmão assistimos ao biscoito aparecer sempre no fim das podas e das vindimas e, principalmente, na manhã da Páscoa. Já é uma tradição, depois do compasso passar, familiares e amigos juntarem-se em nossa casa para comer salpicão e presunto acompanhado pelo biscoito”.
Feito, essencialmente, com água, açúcar, bicarbonato de sódio, limão, ovos e sal, o biscoito produzido por Fátima de Chelo, como é localmente apelidada, começou a tornar-se num caso “um bocadinho mais sério” há quase um ano, quando os seus filhos, membros da Associação Conecta, durante um evento da mesma, decidiram fazer um pequeno lanche e colocaram o doce à disposição dos convidados “ouvimos várias pessoas a comentar que o bolo era diferente, que nunca tinham provado, a perguntar o nome e até mesmo onde o podiam comprar. Ficamos contentes com o feedback e, como tanto eu como o meu irmão temos um bocadinho ‘olho para o negócio’, apercebemo-nos que podíamos rentabilizar o doce e quiçá pensar em algo mais, visto que o bolo já tem uma história por trás”, sustentou Sofia Pereira, acrescentando “nessa mesma semana recebemos a nossa primeira encomenda e, dessa forma, vendemos os nossos primeiros quatro biscoitos”.
Desde então, os irmãos estão responsáveis pela comunicação do projeto do Biscoito de Chelo, tendo já criado, entre outras coisas, uma página no Facebook para receber encomendas, um logotipo e o design das embalagens e a mãe pela confeção do doce.
Atualmente, quanto a encomendas, contam que já são algumas. “Ao longo do tempo fomos ganhando visibilidade e temos, inclusive, pessoas que encomendam todas as semanas. Também recebemos encomendas de fora do nosso concelho, acontece que como não usamos conservantes no biscoito e os envios pelo correio ficam muito caros, não conseguimos atender a todas” revelou Fátima Ribeiro.
“Temos um feedback muito positivo, as pessoas elogiam, sobretudo, a textura e este cunho artesanal. Neste momento, não temos máquinas envolvidas no processo e, enquanto for possível, será para manter desta forma. Gosto também de entregar os biscoitos o mais frescos possível. Por exemplo, quando me encomendam para a tarde, faço-os de manhã; quando me encomendam para de manhã, ou acordo mais cedo ou então deixo-os prontos à noite. O biscoito continua bom passados 10-12 dias, no entanto, por vezes a textura muda um bocadinho. O que é normal e, inclusive, há pessoas que o preferem assim, mas eu gosto de o fazer no dia e depois cada um gere a seu gosto”, contou.
Acerca dos produtos utilizados, Fátima conta que todos eles são produzidos ou adquiridos no concelho de Baião “o biscoito é uma forma de aproveitar os nossos limões e ovos caseirinhos. Os restantes ingredientes compramos nos mercados locais”, referiu.
Questionada sobre a divulgação do biscoito, Sofia Pereira deu a entender que ainda não delinearam uma estratégia em específico e o, ‘boca a boca’ tem facilitado essa questão, ainda assim, o ano de 2025 começou com uma ida à televisão. “O convite para ir à ‘Praça da Alegria’ [programa da RTP] surgiu através da Rita e da Daniela, as meninas da concertina, de Ancede, que têm andando a divulgar o seu projeto musical pelo país. Desta vez, para além de atuar, foram à televisão com o intuito de dar a conhecer um pouco mais das suas raízes, ou seja, do concelho de Baião, e contactaram-nos. Acharam interessante levar um projeto novo, que está ainda numa fase muito precoce, mas que ao mesmo tempo está a crescer”, revelou, mostrando-se, tal como a mãe, agradecida e agradada pela experiência.
Durante a preparação para a entrevista, reparámos no slogan do projeto: ‘Sabor a Família’. Sobre o mesmo a mãe, Fátima Ribeiro, fez questão de exprimir a satisfação que sente em poder trabalhar com os seus filhos “estou muito feliz com o projeto e por poder estar com os meus filhos. Sem o apoio deles tudo isto não seria possível. Cada encomenda que recebo para mim é uma alegria e fico ainda mais contente quando a pessoa compra e depois encomenda de novo. Tudo bem que ganho algum dinheiro, mas o mais importante para mim é fazer algo que as pessoas gostam, em conjunto com a Sofia e o Pedro”, concluiu.
Antes de terminar, abordamos os próximos passos do projeto e ficamos a saber que o futuro passa por regressar ao passado “várias pessoas já nos falaram dos mini biscoitos. Antigamente, até usavam as latas de sardinha como molde para a cozedura. É algo que se as pessoas se lembram de ver durante a infância, mas que com o passar do tempo foi desaparecendo. Estou a usar moldes mais pequenos e a tentar acertar com a quantidade certa de ingredientes para fazer Mini Biscoitos de Chelo fiéis ao sabor original. Encontro-me numa fase de experiências, mas a minha intenção é apresentar estes mini biscoitos na nossa barraquinha na Feira do Fumeiro, que se realiza nos dias 4, 5 e 6 de abril, na Vila de Baião”, anunciou Fátima Ribeiro.
Se tiver interesse, pode encomendar o seu Biscoito de Chelo através da sua página no Facebook ou então contactar o número 936 238 384 (Sofia Pereira).