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O Comércio de Baião

2025/01/13

OPINIÃO: A TRANSLADAÇÃO DE EÇA DE QUEIROZ: UMA PARTIDA QUE DEIXA BAIÃO MAIS POBRE

Destaque

A transladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional representa um momento de profunda perda e consternação para Baião. Este concelho, que tem sido esquecido ao longo dos anos, vê-se agora privado de uma das suas mais importantes ligações à história e à literatura. Este episódio, não se resume a uma decisão administrativa ou simbólica; traduz-se sim, numa grave desconsideração pela identidade e pelo legado de uma comunidade que sempre encontrou em Eça de Queiroz uma figura central para a sua história cultural.

O percurso do escritor Eça de Queiroz após a sua morte está cheio de significado. Falecido em França em 1900, foi inicialmente sepultado em Neuilly-sur-Seine, França, onde desempenhava funções diplomáticas. Mais tarde, os seus restos mortais foram transladados para o cemitério Alto de São João, em Lisboa. No entanto, graças ao esforço da família, em especial de D. Maria da Graça, os restos mortais acabaram por ser transladados para o cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião. Ali, em plena paisagem que tanto inspirou o escritor para a escrita de obras como A Cidade e as Serras, Eça encontrou o lugar que parecia feito para o acolher.

Baião, na altura, acolheu Eça de Queiroz com a dignidade que ele merecia. Este território, já de si fragilizado pela sua localização e desafios económicos e sociais, encontrou no escritor um símbolo de prestígio cultural que não só reforçava a sua identidade, como atraía muitos visitantes e estudiosos. Contudo, essa ligação foi abruptamente interrompida por um processo iniciado por José Luís Carneiro, à época presidente da Câmara Municipal de Baião.

José Luís Carneiro, sendo natural de Baião, deveria ter sido o primeiro a erguer a bandeira da defesa do património cultural do concelho. Contudo, foi precisamente ele quem deu início ao processo que culminaria na transladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para Lisboa. É importante sublinhar que este processo foi conduzido desde o início contra a vontade de uma parte da família do escritor e contou sempre com a oposição da maioria da população local, que sempre viu na presença de Eça de Queiroz no cemitério de Santa Cruz do Douro um motivo de orgulho e uma ligação viva à cultura e história do território e que, portanto, esta atitude revela uma falta de compromisso com a memória de Eça e com a preservação do espólio cultural de Baião.

O mais chocante é que mesmo depois de ter deixado a Câmara Municipal de Baião, José Luís Carneiro continuou a apoiar ativamente o processo de transladação, demonstrando um desprezo flagrante pelos interesses da sua terra natal.

Mas a responsabilidade pelo desfecho deste processo, não recai apenas sobre José Luís Carneiro. O atual presidente da Câmara Municipal de Baião, Paulo Pereira, também tem culpa neste episódio. Em vez de reverter, ou de pelo menos tentar impedir o avanço deste processo, Paulo Pereira adotou uma postura subserviente, alinhando-se com as decisões do seu antecessor.

Como atual presidente da Câmara Municipal, Paulo Pereira tinha o dever de proteger o património cultural de Baião e de ouvir a vontade da população. Contudo, ao apoiar a retirada dos restos mortais de Eça de Queiróz para o Panteão Nacional, Paulo Pereira mostrou ser um seguidor de José Luís Carneiro, reforçando o sentimento de abandono e traição entre os baionenses. A sua inação e apoio a esta decisão, fazem que esta seja considerada uma traição ao povo que representa.

A transladação de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional representa um retrocesso irreparável para Baião.

O que Baião perde não é apenas a presença simbólica do escritor, mas também uma parte da sua força cultural e da sua história.

O Panteão Nacional é, sem dúvida, um local digno para acolher os grandes nomes da história portuguesa, mas isso não deveria ter sido feito à custa da identidade cultural de Baião. Esta decisão, conduzida com desprezo pelos interesses locais e pela vontade da população, marca um dia negro para o concelho e para todos aqueles que reconhecem na cultura e na memória histórica um valor inestimável.

Que este episódio sirva de reflexão para que, no futuro, lideranças locais e nacionais reconheçam o papel das comunidades na preservação do património cultural. E que a memória de Eça de Queiroz não seja apenas celebrada em Lisboa, mas que continue viva em Baião, onde o escritor encontrou, durante tanto tempo, o repouso merecido.

Raul Melo, deputado do CHEGA à Assembleia da República

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