2025/05/08
Abel Bom Jesus, Ex-Ministro da Agricultura, de Desenvolvimento Rural e Pescas, do XVIII Governo Constitucional de São Tomé e Príncipe, visitou Baião, no passado dia 6 de maio de 2025.
De referir que Abel Bom Jesus, foi Ministro até ao dia 6 de janeiro do corrente ano, data em que o Presidente da República, demitiu o Primeiro Ministro, Patrice Trovoada.
A visita deste ex-governante teve como destino colher conhecimentos no setor agropecuário, sobretudo na confeção e manufaturação dos produtos derivados da carne de porco, principalmente o fumeiro, que neste concelho é exercida por pequenos produtores que utilizam práticas tradicionais, cujas técnicas têm passado de gerações, em gerações, aliadas ao conhecimento e à utilização prática de novas tecnologias, sem alterar a essência do produto final.
Abel Bom Jesus, referiu ser um empreendedor do ramo agrícola, em São Tomé e Príncipe e que “esta área é a Mãe da economia deste arquipélago que ganhou fama a nível internacional por via do cacau, do café e da cana-de-açúcar. A agricultura congrega história real deste país desde os primórdios até ao presente”, salientou.
Este jovem agricultor Santomense, como se intitula, veio a Baião em busca de colher e levar conhecimentos, como acima foi dito, na área da agropecuária, mais concretamente na manufaturação de enchidos de porco.
Aqui visitou as instalações do empresário, Amílcar Pereira, situadas na variante urbana à Vila de Baião, nas proximidades do Multiusos de Baião, que lhe fez uma visita guiada, à sua “linha de montagem”, passando por todas as dependências até o fumeiro ficar pronto a ser expedido e chegar às mãos do consumidor final.
Abel Bom Jesus, mostrou ser um bom aluno, questionou a maneira de fazer a peça de fumeiro, o presunto, o salpicão, a moira, o chouriço e as alheiras, devidos tempos que demoram na sua maturação, não esquecendo os condimentos que cada uma leva na sua confeção.
“É muito bom que os empreendedores, ou quem pretende entrar no negócio, conheça que tipo de negócio ele domina. Porque quando nós não dominamos aquilo em que estamos a investir, ou acreditamos, ou é muito complicado. E eu não tinha noção daquilo que é ou como é feito esse processo. Confesso que não estou apto para poder fazê-lo, mas já tenho uma mínima noção. E gostaria de contar com a possibilidade no futuro, poder mandar aqui jovens do nosso país, para poderem vir aqui aprimorar como é que é feito esse processo”, adiantou Abel Jesus ao nosso Jornal.
Disse também que “hoje em dia, com as mudanças que o mundo tem vivido, é importante que cada povo comece a encontrar mecanismos para poder fazer crescer a sua economia. E, acima de tudo, sermos criativos, porque no nosso país também temos carne, também temos matéria-prima para desenvolver esse trabalho, falta-nos é o conhecimento. Mas, só se consegue o conhecimento, com intercâmbio. Pude sentir na sua primeira apresentação, falar um pouco do seu pai. É que a educação que o pai e a mãe dão ao filho, determina muito do futuro dele. E hoje o senhor não é rico ao nível financeiro, mas é rico no nível do conhecimento, pelo seu pai lhe ter ensinado que a vida é ganha com trabalho. Então, só posso dizer que vocês estão de parabéns, e que Deus continue a abençoar e a multiplicar os feitos desta casa, que já não é só vossa, é uma casa que está a serviço de Portugal e do mundo, porque esse produto chega também a outros países”.
Relativamente à questão do emprego, o ex-governante disse “hoje em dia, pode-se ver que nós, em vez de procurarmos emprego, podemos criar o nosso próprio trabalho. E este é o exemplo disso. O empreendedorismo é algo muito importante e o governo deve apostar nele porque o salário não enriquece ninguém. O que enriquece é o negócio e isso é um negócio”.
Questionado se tem outras áreas de interesse, além da agropecuária, Abel Bom Jesus, respondeu “sim, da parte da vinicultura também, mas no nosso país nós não produzimos vinho. Mas é importante, nós conhecemos como é feito o vinho, porque nós temos o turismo e servimos muito vinho no país, sobretudo vinhos portugueses, e é sempre bom falar um pouco daquilo que é o vinho para o consumidor do restaurante. Então é importante nós também conhecermos”.
No tocante à nossa agricultura o ex-ministro desta pasta no seu País, diz ver em Portugal agricultura, embora não se adeque à realidade de lá.
“Mas também podemos levar essa agricultura mais ao nível daquilo que nós considerarmos que é a nossa realidade. Porque a agricultura é a arte de cultivar a terra. O resto depois vem, com o avanço da tecnologia e a necessidade do homem, hoje temos estado a aprimorar, buscando alternativas, como, por exemplo, novos sistemas para dinamizar e aumentar a produção. Portugal está bastante à frente de São Tomé e Príncipe ao nível da mecanização e o conhecimento também”, frisou.
Sobre a disponibilidade de terras em São Tomé e Príncipe, explicou “como em qualquer outro país do mundo, nós não podemos simplesmente quantificar o que temos. O que temos que fazer é dar valor e maximizar ao máximo o pouco ou o muito. Porque há momentos que o muito se torna pouco, como o pouco também pode ser o muito. Eu visitei já outros países onde tem centenas de hectares, mas não são aproveitados. Em São Tomé e Príncipe, eu particularmente, como exemplo, sou agricultor, cultivo cerca de 5 ou 6 hectares de terra, e a produção que eu tenho lá, mesmo no meu país, quem tem 70 hectares não produz. Então, o problema não está na quantidade. Hoje em dia para países como o nosso, devemos pautar pela produção da qualidade, em vez da quantidade. Em São Tomé e Príncipe, aposta na qualidade, sobretudo no cacau, no café e em todos os serviços que nós prestamos. Por isso que eu costumo dizer que o povo de São Tomé, ou seja, o país é um país pequeno, povo pequeno, mas com uma alma grande e sonho grande. E acreditamos que no futuro podemos atingir grandes patamares, também com o apoio dos nossos parceiros, e Portugal é um deles”.
Como empreendedor, e como acima foi dito, manifestou vontade em enviar um grupo de jovens de São Tomé para Baião, a fim de cá estagiarem, não tendo perdido a oportunidade de tentar “convencer” Amílcar Pereira de ir passar umas férias à sua terra e ministrar “in loco” a respetiva formação, tornando-a dessa forma mais económica e sustentável.
“Também queria acrescentar que para além da sua trajetória, do conhecimento que tem, é essa vontade e abertura de partilhar conhecimento. Nós, os homens, somos muito orgulhosos depois de termos algum conhecimento que também foi passado por alguém, e permitido por Deus, porque por mais que o homem tenha o conhecimento ou a sabedoria, se Deus não permitir, não terá nada. E vejo muitos homens esconderem, dizendo que ele não dá, ou seja, não passa o seu conhecimento como forma de evitar que haja concorrentes. Um mundo também sem concorrente, não há desenvolvimento. Porque as pessoas pensam assim, eu já sei, não há mais ninguém concorrente, e param. Quando há concorrente, nós temos que fazer o que é inovar sempre, buscar alternativas, aperfeiçoar mais, e isso é melhor. Um mundo mais competitivo, maior o desenvolvimento. Por isso também, essa abertura que nos dá de visitar, falar da sua experiência, mostrar os cantos do seu estabelecimento para nós podermos perceber como é feito, isso não é algo que se vê em toda a gente hoje em dia no mundo, sobretudo ligado ao negócio. Nós, hoje em dia, preocupamo-nos mais em ganhar dinheiro do que fazer do mundo um lugar melhor para todo o ser humano viver de forma próspera. Escondemos segredos. Não. No mundo tem que existir pessoas que constroem pontes, porque nem sempre quem constrói pontes usa ela para atravessar. Temos que pensar nas pessoas que vêm de ponte nova”, concluiu Abel Bom Jesus.
Amílcar Pereira, como bom baionense que é, possui também a qualidade de ser hospitaleiro e de saber receber bem quem visita a comunidade, afirmou “Aquilo que eu puder ajudar e que estiver ao meu alcance, pode contar comigo. Porque eu também contei com o apoio do Município, através da instituição Dolmen, que foi quem me ajudou no arranque com um incentivo para chegar onde estou. Eu já trabalhava com isto nos meus três estabelecimentos, depois incentivaram-me, foi tal e qual, numa reunião de câmara, e disseram-me, porquê é que você não faz alguma coisinha maior, mais aperfeiçoada em termos de instalações e foi daí que eu comecei só com aquela parte de cima, e depois deram outra força para começar com esta. Fui apoiado e incentivado por eles, e está como está”.
Conforme verificamos no acompanhamento da visita, Amílcar Pereira “abriu o livro”, e transmitiu todos os conhecimentos necessários para que Abel Bom Jesus, possa avançar com um empreendimento do género em São Tomé e Príncipe.
Quanto à sua ida lá, terá de ter tempo de ponderar, apesar de saber que “um descansinho naquelas praias quentinhas ir-me-ia fazer bem”, sublinhou.
A visita terminou com a prova do fumeiro, bem à moda de Baião, não faltando a broa de milho a acompanhar, conjuntamente com um dos muitos vinhos verdes deliciosos, com que a natureza dotou esta região.