2025/02/27
Maria Beatriz Oliveira Costa, aluna do Agrupamento de Escolas de Eiriz - Baião, obteve o 1º lugar no Concurso “Ser Escritor é Cool”, promovido pela Rede de Bibliotecas Escolares (RBE).
Dividido em três desafios e destinado a todos alunos que frequentam o ensino básico e secundário em Portugal, no presente ano letivo 2024/2025, o concurso de literatura tem como tema principal a celebração dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões.
Beatriz Costa, vencedora do ‘Desafio 1’, fazendo jus à Epopeia Clássica “Os Lusíadas”, uma obra ímpar sobre os descobrimentos e a ousada aventura dos navegadores portugueses rumo ao desconhecido, escreveu uma história sobre uma viagem de descoberta a Marte liderada por ela mesma, na companhia de Luís Vaz de Camões, Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes e Mário Ferreira.
Ao nosso jornal, a aluna de 13 anos do 8ºA, contou que participa sempre nas atividades da escola, já tendo vencido algumas, mas mostrou-se muito contente por ter ganho, pela primeira vez, uma a nível nacional “não estava à espera, principalmente por ser a nível nacional. Fiquei muito feliz e sei que deixei os meus pais e amigos orgulhosos”, revelou.
Sobre o gosto pela escrita, Beatriz Costa diz que sempre gostou de ler livros, pois, muitas vezes, baseia-se nas histórias que lê para escrever.
Acerca do texto em si, explicou que a sua parte preferida foi escrever uma analogia sobre o Vinho do Porto “Luís Vaz de Camões nunca tinha provado o Vinho do Porto. Ao beber pela primeira vez abusou um bocadinho e ficou a ver dos dois olhos. Julgava ele, pois na verdade estava a ver a dobrar”, explicou entre sorrisos.
Embora ainda tenha algum tempo para decidir, a jovem que, no futuro, diz ter interesse em seguir direito, mostrou-se bastante animada para voltar a participar no concurso “vou agora participar no ‘Desafio 2’ e não escondo que gostava de voltar a vencer”, assegurou. Neste segundo texto, que foi entregue no dia 21 de fevereiro, a aluna escreveu sobre os poemas de Camões, que abordam temas como a fugacidade do tempo, o amor e a busca pelo sentido da vida.
Embora se trate de uma atividade extracurricular, o Agrupamento de Escolas de Eiriz, na pessoa dos professores Florbela Apolónia Rocha e José Miguel Araújo, apresentou o concurso a todos os seus alunos e incentivou os interessados a participar “o não está sempre garantido. Eles não têm nada a perder, antes pelo contrário, e a Beatriz é um bom exemplo disso” contou Florbela Rocha, professora bibliotecária, acrescentando “espero que ao verem a colega ganhar, se sintam ainda mais motivados para participar”.
De forma a simbolizar a sua conquista, Beatriz Costa recebeu da ‘LeYa’, grupo editorial multinacional português, um diploma, um livro e uma caneta.
De seguida, transcrevemos o texto da Beatriz Costa:
Camões vai a Marte
Vivo na aldeia Ribeirinha de Porto Manso, no concelho de Baião, e sou uma das responsáveis pelo projeto da primeira viagem tripulada a Marte, diretamente do passado para o futuro.
Teríamos de arranjar elementos com bons registos do passado, para podermos dar uma palestra aos nossos vizinhos marcianos. Convidei o meu amigo de há longos anos - o Luís de Camões - e outro amigo mais recente - o Alves Redol. O Luís vai falar das gentes do meu país e o Redol é muito bom a falar dos meus conterrâneos de Porto Manso – até já escreveu um livro com o mesmo nome. O primeiro vai falar sobre as grandes viagens, batalhas e outros feitos dos portugueses. O segundo, sobre a bravura dos meus conterrâneos, quando transportavam vinho fino (agora chama-se vinho do Porto), em barcos rabelos, ao longo do furioso Douro.
Não deixa de ser curioso, um viajou em água salgada e o outro em água doce. Por isso, foi bastante difícil selecionar o tipo de água que vamos levar como amostra - parece que os marcianos não conhecem este líquido. Achei que poderíamos levar 0,5 litro de cada, uma vez que o máximo permitido neste tipo de viagem é de 1,75 litros. Quanto ao produto que melhor carateriza os portugueses, nomeadamente, os do Norte, toda a equipa foi consensual – o vinho do Porto! E, feitos os cálculos, com uma garrafa de vinho do Porto de 0,75 litros, perfazemos o total de líquidos permitidos. O Luís, como ainda não tinha provado este tipo de vinho docinho, bebeu tanto que até ficou a ver pelos dois olhos – julgava ele, pois estava a ver a dobrar!
Na fase de projeto, tivemos alguma dificuldade em definir a forma da nossa nave espacial. O Camões defendia a forma do casco das naus ou das caravelas, o Redol preferia a forma do casco do barco rabelo, argumentando que seria muito mais aerodinâmico. Eu, na altura, inclinei-me mais para o rabelo, considerando que facilitaria a viagem durante o atravessamento da atmosfera terrestre. Mas, por mero acaso, quem havia de chegar naquele momento? Nem mais, nem menos, que o nosso português já experiente nestas viagens – o Mário Ferreira – que também nos vai acompanhar até Marte. Ainda me lembro das palavras dele: “Calma pessoal, a nave vai ter a forma dos meus barcos-hotel! E, já agora, contem com uma equipa da TVI que nos irá acompanhar” – disse ele, com aquele sotaque à moda do Porto. Eu nem queria acreditar que a nossa viagem ia ter transmissão direta para a Terra! E, realmente, os barcos dele têm umas grandes janelas e umas varandas nos quartos, o que permitiria apreciarmos melhor a viagem até ao planeta vermelho. Sempre achei que a experiência do super Mário seria uma mais-valia. Só espero que possamos descobrir água em Marte. Caso contrário, será uma grande desilusão para estes três homens que não vivem sem água. Sem água eles não seriam tão famosos: um não teria a oportunidade de viajar e salvar os Lusíadas; o outro não teria escrito Porto Manso; e o outro não teria ganhado dinheiro para ir ao espaço.
Daqui, da janela das instalações da NASA, em Eiriz, junto à Escola Básica, observo a alegria de alguns membros da equipa, nomeadamente, daqueles três homens, em modo de despedida. O Camões está felicíssimo com o novo olho de vidro de uma fábrica da Marinha Grande; o Redol acaba de chegar de uma visita a casa do seu compadre – o escritor Soeiro Pereira Gomes, que vive em Gestaçô; e o Ferreira está a dar uma entrevista para a TVI. Partiremos no dia de Natal e, quando chegar, partilharei um podcast na Classroom da turma!
Vou aMar-te!