António Alberto Azeredo, nasceu na freguesia de Santa Marinha do Zêzere, residindo atualmente em Valadares, Baião. Pertence à geração dos “filhos dos homens que nunca foram meninos”, tão bem retratada pelo escritor Baionense, neorrealista, Soeiro Pereira Gomes, no seu livro “Esteiros”.
Vem esta introdução a propósito de Alberto Azeredo, ter começado a trabalhar aos 11 anos de idade, a aprender a arte de carpinteiro, mas, desde criança, que a sua grande paixão, era saber tocar guitarra, só que “o meu pai nem ma comprava, nem ma deixava comprar”, revelou ao nosso jornal.
“Fiquei sempre com aquela cisma na cabeça. Quando tinha 15 anos, fiz uma guitarra, que está aí e que posso mostrá-la”, afirmou.
Porém, antes disso, Alberto Azeredo, comprou a um senhor que veio do Brasil uma guitarra, por quatrocentos e tal escudos. O problema foi quando chegou a casa com ela.
“Cheguei a casa e o meu pai queria partir-me as costas com ela. Não me deixava comprar a guitarra. Tive que ir ao senhor levá-la, ele entendeu a situação e devolveu-me o dinheiro. Pronto, não tinha hipótese de realizar o meu sonho”, isto no ano de 1969.
Foi então que decidiu “meter mãos à obra” e fazer uma. Como nessa altura já trabalhava bem a madeira e acreditava nas suas capacidades, não via qualquer inconveniente.
Mas, não foi assim tão linear e teve que contornar algumas dificuldades.
“Ora, eu com 15 anos, era um moço, praticamente uma criança, ninguém me emprestava uma guitarra para que pudesse tirar o modelo”, conta Alberto Azeredo.
Como se costuma dizer, uma cisma é pior que uma doença, e a sua paixão era tão grande que, um dia foi a um baile e deparou com o animador a tocar guitarra. Nem pensou duas vezes, não ia deixar escapar aquela oportunidade.
“Com um papel e um lápis, desenhei a guitarra e, mais ou menos, a cálculo, tirei as medidas”, disse.
“Então, comecei a construção da guitarra, nessa altura, com 15 anos. Andava há 4 anos a aprender a carpinteiro, já sabia da profissão o suficiente para fazer qualquer coisa em madeira. Entretanto surgiu-me mais um problema, faltava a escala que era o principal, que é exatamente aquela parte que vem de cima para baixo”, afinal não era assim tão fácil como pensava.
O querer fazia mover montanhas e eis que se lembra que tinha uma prima, cujo marido tinha uma viola “lá fui ter com a minha prima, que às escondidas do marido me emprestou a viola, só para eu tirar as medidas à escala. Levei um papel químico, coloquei-o por cima da escala, passei-lhe a mão e registou-me os pontos. Não deveria ser assim, porque a escala é feita conforme o tamanho da viola. Eu pensei que era assim e lá avancei com a construção, fazendo os trastes, de arame ou cobre batido”, elucidou, continuando “Até que um dia, um senhor que era um bom tocador de guitarra, já falecido há uns anos, veio à minha casa, porque ouviu dizer que eu gostava de fazer uma guitarra. Chegou lá, trouxe umas cordas, meteu-as na guitarra, começou a tocar e a guitarra tocava bem. Fiquei todo contente, afinal a guitarra tocava, tinha feito qualquer coisa”, comentou com uma expressão de alegria bem estampada no seu rosto.
A partir daí pediu a Alberto Azeredo para ir tocar num bailarico com ele, passou-lhe três ou quatro acordes e deu início à sua aprendizagem de tocador, porque nunca tinha tocado na vida.
“Até essa data, nunca tinha tocado nada. Então comecei a tocar e aprender aqueles acordes que ele me deu. Mas aquilo era muito pouquinho, três acordes ou quatro não dava para nada. Então, pedi a um recoveiro que havia aqui, ele fazia transportes de coisas para o Porto e do aeroporto para cima, para me trazer um método para aprender a tocar a guitarra. Lá foi a uma casa de música, comprou-me o método e eu lá comecei a aprender”, sublinhou.
“Hoje em dia, não é preciso nada disso, porque a internet tem tudo, mas naquele tempo, a única maneira que se tinha era através de um método, que, por acaso, foi do Rigo Solo, que comecei a aprender os acordes e comecei também a tocar nos bailaricos até ir para a tropa”, confessou.
Regressado do cumprimento do serviço militar, na altura já com esposa e o filho mais velho, teve de dar um rumo à sua vida.
“Tive que andar para a frente. A viola foi para cima do guarda-fatos. E assim acabou e não houve mais viola para ninguém, o foco foi “tocar” a trabalhar”, recorda.
“Estive 40 anos sem pegar na viola. Comecei a pegar nela aos 60 anos, quando me reformei. Fui à internet, à procura de saber mais umas coisas e agora é o meu entretimento quando não tenho que fazer”, gracejou.
Tem quatro violas, entre as quais a que construiu e, uma outra, feita por Domingos Ferreira Capela, cujo valor não quis arriscar dizer por “Nem sei dar valor à viola”, dizendo que a mesma estava toda escaqueirada, toda velha “tinha-a mandado já para dois restauradores de guitarras e ela ainda veio pior, do que foi, então restaurei-a e como podem ver ficou impecável. O famoso Eurico Cebolo, na altura, quando soube que eu tinha essa viola, dava-me por ela uma nova à escolha”, salientou.
É importante dizer que começou a restaurar as suas violas, em primeiro lugar a que tinha feito e esteve 40 anos parada “já estava coitadinha, a precisar de uns mimos, com 50 e tal anos, depois restaurei a construída pelo Capela e depois as outras duas”.
Entretanto decidiu começar com o restauro de violas. Mas, só lhe apareciam instrumentos que pertenciam a familiares.
“Pessoas a quem eu não ia levar dinheiro, andava a trabalhar de graça, ainda por cima gastava dinheiro com a compra de material. Parece-me que só levei dinheiro a uma pessoa. Não levei dinheiro a mais ninguém”, realçou, Alberto Azeredo.
Posto isto acabou com o restauro, mais até pelo facto da paciência lhe começar a faltar.
“Agora o meu entretimento é, quando está a chover, meto uma musiquinha no computador e ponho-me a acompanhar. Além disso toco também na tuna «Os Amigos de São Pedro», que é de Outoreça, em Ovil, conjuntamente com um grupo de amigos. Os nossos ensaios são espetaculares, convivemos, entretemo-nos e tocamos músicas antigas tradicionais para bailes, é um grupo fabuloso constituído por gente maravilhosa. Fazemos aquilo que gostamos e enquanto estamos lá não estamos a pensar em mais nada”, concluiu Alberto Azeredo.