2024/11/28
Manuel Nascimento é um cidadão português, nascido em Sendim, Tabuaço, radicado na cidade de Cormeilles-en-Parisis, que se situa nos arredores Norte de Paris.
A ele se deve a escolha de Baião para a geminação com a cidade francesa de Cormeilles-en-Parisis, como nos refere numa conversa que com ele mantivemos e que seguidamente damos nota aos nossos estimados leitores.
Jornal “O Comércio de Baião” - CB – Diga-nos por favor de onde é natural, quais as suas ligações a Baião, o seu estado civil, idade e no caso de ter filhos quantos e qual a residência?
Manuel Nascimento – (MN) - Nasci em Sendim (Tabuaço) em 1949. Sou casado e tenho 2 filhos (rapazes) todos a viver em França.
Sobre as minhas ligações com Baião, haveria muito a dizer, mas vou tentar ser breve nas minhas explicações:
Sou residente na cidade de Cormeilles-en-Parisis (arredores Norte de Paris), e fui contactado por Bernard Rivy (Vereador) para criar um grupo de geminação com uma cidade/vila de Portugal, no qual seria eu a fazer essa escolha, segundo condições estabelecidas tanto por mim, como pelo grupo.
Escolhi duas cidades/vilas, uma a Norte e outra no Centro, isto com o cuidado que todas elas fiquem perto dum aeroporto.
Os primeiros contactos com Baião foram com José Luís Carneiro, quando esteve no Consulado Geral de Portugal em Paris, que na altura tinha o cargo diplomático de Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, mas sabendo que ele já tinha sido presidente da Câmara Municipal de Baião.
Foi nesta conversa com José Luís Carneiro, que me informa que o novo presidente da Câmara de Baião é Paulo Pereira. Depois de eu ter tomado um primeiro contacto com a Câmara, as coisas só ficaram resolvidas quase 2 anos depois.
A primeira reunião em Paris do grupo de geminação foi a 16 de outubro de 2014 e com várias manifestações culturais a decorrer nesta cidade, a geminação foi concluída em setembro de 2018.
CB – Em que data emigrou para França?
MN - Começo por dizer que não emigrei. Fui um refugiado ou desertor, como queiram qualificar.
Com 12 anos deixei a minha aldeia e fui para trabalhar para a cidade de Lisboa e, continuar os meus estudos secundários durante a noite.
Quando cheguei aos 20 anos, como não quis obedecer ao Estado Novo, e ir p’rás guerras na África, deixei Lisboa, e parti para Paris, com destino já programado, e aqui estou desde janeiro de 1970.
CB - Qual o meio ou meios de transporte que usou?
MN - Como muitos portugueses usei um “passador”. Tudo correu bem, vim de carro de Lisboa até à fronteira de Espanha, para percorrer alguns minutos a pé. Depois de comboio de Vilar Formoso até Hendaia (França) e por fim de novo de comboio até aos arredores, onde residia o passador.
CB - Teve ou não dificuldades na integração ao início?
MN - O primeiro problema começou que o passador no espaço de uma semana desapareceu do mapa, e tive que me virar para uma tia que morada mais abaixo do Centro da França, onde me recebeu e onde comecei o primeiro trabalho nas obras (era fotógrafo em Lisboa).
Digamos que a única dificuldade foi a barreira da língua, durante os primeiros meses.
CB - Qual a sua atividade profissional?
MN - Como já disse, trabalhei 11 meses nas obras, depois já nos arredores de Paris, como eletricista durante 2 anos.
A seguir virei-me para a fotografia numa sucursal da Biblioteca Nacional de Paris, durante 15 anos, e por fim na informática até ficar aposentado.
Como multifacetado que é já escreveu e publicou 21 obras, sobretudo da história de Portugal, que diz adorar.
CB - Qual foi o seu percurso de vida nesse país?
MN - Desde a minha vinda para Paris, fui sempre muito ativo no meio associativo franco/português, onde também fiz teatro amador, fazia projeção de filmes nas associações, dei curso de língua portuguesa para adultos, em geral para mulheres francesas que estavam casadas com portugueses.
Foi a partir de 1997 que comecei a redigir o meu primeiro manuscrito sobre a História de Portugal em bilingue português/francês, sabendo que muitos franceses e até portugueses desconheciam a História de Portugal, tendo esta ideia do manuscrito bilingue, sido editado em Paris em 2002, sendo uma edição única pela sua apresentação.
Este livro foi classificado pelos professores, como uma ferramenta de trabalho. Desde então e ainda no domínio da escrita, hoje conto com mais 21 livros, quase todos históricos, nomeadamente; História de Portugal, As Invasões de Napoleão em Portugal, os soldados portugueses na participação em França durante o primeiro conflito mundial 1914-1918, assim como a Revolução dos Cravos do 25 de abril de 1974.
CB - Algo mais que queira referir, como por exemplo se vem a Baião muitas vezes, entre outras, que considere importantes.
MN - Neste meu pequeno resumo, queria também dizer que fui co-fundador e dirigente de três associações em Paris.
Em 1974. Em 2011, fui Presidente durante sete anos, e agora sou sócio, mas também muito ativo em ações culturais junto da nova direção e em 2017, na qual ainda sou dirigente.
Fui três vezes a Baião, a primeira foi para me encontrar com a Dra. Ilda Borges no quadro da geminação. A segunda, foi para conhecer a vossa biblioteca, à qual tinha feito uma proposição de fazer uma palestra sobre os meus livros e porquê. Mas sem resposta desde há muitos anos e a terceira, foi para conhecer melhor a região, de uma cidade que foi geminada por uma iniciativa minha e argumentada aqui em França junto do grupo de trabalho.
Ainda nesta minha terceira ida a Baião quis visitar a Fundação Eça de Queiróz, Casa de Tormes, mas infelizmente encontrava-se encerrada, mas penso ainda num próximo tempo a ir visitar.
A propósito de Eça de Queiroz, também fiz uma conferência sobre a vida de Eça de Queiroz, no dia 10 de novembro de 2019.