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O Comércio de Baião

2024/05/01

GUSTAVO SILVA HERDOU DO PAI A PAIXÃO PELA PESCA

Destaque

Gustavo Soares da Silva, de 78 anos de idade, é natural da freguesia de Santiago de Piães do vizinho concelho de Cinfães, mas já reside em Baião, mais concretamente em Mosteirô, na Rua da Estação, em Ancede e Ribadouro, quase há meio século. É um apaixonado pela pesca à rede no Rio Douro, onde tem o seu barco de nome «Douro», ancorado a muito poucos metros da sua residência, que se situa entre a linha férrea e o rio, com uma vista panorâmica lindíssima, com aquele espelho de água a seus pés, avistando-se ao fundo a ponte de Mosteirô, da autoria do Resendense, Edgar Cardoso.

Gustavo Silva revelou-nos “O meu pai era negociante de fruta e também pescava, herdei dele esta paixão pela pesca”. “Comecei a pescar quando fui trabalhar para a escola de Cinfães, já pesco à rede há mais de 40 anos, sempre no rio Douro”, explicando, “Trabalhava na escola de noite, como vigilante, quando vinha do trabalho ia até às 11 horas, meio dia, para o rio depois estava aqui por casa”. O mestre pescador, lá nos foi aturando e respondendo às nossas perguntas, valendo-se algumas vezes da ajuda da simpática e perspicaz, Fernanda, sua esposa, que, com um brilhozinho nos olhos deixava transparecer o orgulho que sentia, quando lembrava ao marido o peso dos maiores peixes e nos mostrava as fotos que guarda, como de troféus se tratassem, religiosamente. Desta forma soubemos como e quando é feita a faina no rio.

“Ponho a rede à noite e levanto-a ao outro dia de manhã, quanto mais cedo melhor para o peixe ser mais fresco e não se estragar”.

 

Interpelado sobre se há muita quantidade de peixe no rio e, sobre o aparecimento ultimamente do peixe gato, Gustavo Silva, foi perentório:

“O rio está infestado de peixe. O peixe gato não incomoda nada, de vez em quando lá vem um, mas eu até estou convencido que não é bem o peixe gato que devora o peixe, porque, ainda há dias tirei dois ou três grandes. Abri-lhe a barriga e, lá dentro não existia nenhum peixe. Então o que fizeram para aí, puseram as enguias em vias de extinção, proibindo a sua captura, posso dizer que isto está tudo infestado de enguias, só quem lá anda todos os dias é que as vê a passarem na rede, elas caiem abaixo e devoram o peixe. Eles puseram-nas em vias de extinção porque um ano as algas mataram meia dúzia delas que apareceram na margem da Pala até à barragem de Carrapatelo, vai daí proibiram a pesca. Não tenho medo de dizer isto, o rio está mesmo cheio de enguias e de outro peixe”, salientou.

Também nos disse que “agora pesca-se pouco, porque de cada vez há menos gente, antigamente ia-se ali a Baião, ia-se à Régua era gente naquelas ruas até dizer chega, agora não, portanto há pouco quem compre, quem até vai gastando bastante é o Hotel dali da Pala e o de Santa Cruz do Douro, esses compram bem, porque também é preciso saber arranjá-lo”.

Manifestou a sua revolta, porque em sua opinião há coisas que não fazem sentido “Costumam andar por aí, três ou quatro senhores de jipe para cima e para baixo a gastar gasóleo a controlar quem anda a pescar à cana, se são apanhados com algum peixe que é proibido pesca-lo, apanham logo uma pesada multa, para quem pesca um ou dois peixes para consumo próprio, isso está mal porque, quem está lá sentado a uma secretária, não sabe o que se passa no rio e se há muito ou pouco peixe”.

Atualmente as espécies existentes no rio são: o Lúcio, o Barbo, a Tainha, o Gardon, o Achigã, Boga e Escalo (quase desaparecidos), Carpa e Enguia.

 “Agora pesco aqui nas proximidades, até à Pala, com a passagem dos barcos entra muito peixe e chega este pequeno percurso. Antigamente de Resende para baixo era uma zona onde dava mais Barbos, pesquei lá toneladas de peixe, nessa ocasião dava 30 Kg, a quem me comprava 100 Kg. A mim não me importava o dinheiro dos 30, o que me importava era o dinheiro dos 100, agora, quando se tira um Barbo, já tem que se pagar bem, porque há muito poucos. Há quinze, vinte anos atrás era quanto se queria”, recorda Gustavo Silva, com sentida nostalgia. Confessou que durante os quarenta anos de pescador já tirou alguns de tamanhos bastante generosos, sendo o maior uma carpa, de aproximadamente 25 kg, lúcios com 7, 8 e 12 kg, este vendido para o “restaurante Calça Curta”, barbos com vários tamanhos e pesos, mas o maior teria também 12 Kg, peixe gato de 8, 9, e o maior de 12 kg, entre outros.

“O peixe gato, seja de que tamanho for, não deve ser restituído à água, os que pesquei não vendi nenhum, tenho-os oferecido a alguns clientes, a familiares e amigos”, disse.

Pesca sempre sozinho “desde que se tenha um bom barco e um motor afinado, uma pessoa a mais dentro do barco, só estorva, só complica”.

“Quando não tiver forças, isto acaba, não tenho ninguém que queira dar continuidade, os meus filhos não ligam muito, gostam de pescar à cana, mas não ligam, apesar do mais velho ter muita habilidade, já o mais novo não tem jeito e também não gosta, portanto quando não puder isto acaba. Agora há ocasiões que se vai porque se gosta, não vou todos os dias, mas pesco à medida das encomendas”, elucidou, Gustavo Silva.

Ficamos a saber que o rio Douro é também frequentado por Corvos Marinhos, segundo uma engenheira do ambiente, que veio uma ocasião a Carrapatelo, que são, nada mais, nada menos, do que aqueles patos pretos que se veem nas margens e, frequentemente, a atravessar o rio.

Mas existe também o Pato Real, que mantém uma relação amigável com Gustavo Silva, que, quando está a preparar o peixe saltam para a sua beira, tentando tirar-lhe as vísceras que ele retira do peixe. Quando não conseguem esperam que ele as atire ao rio e vêm busca-las e come-las.

É evidente que também tem algumas peripécias que lhe aconteceram, algumas bastantes interessantes, como a que se passou com uma Lontra “Estava ali à beira da ponte a preparar peixe, por volta das quatro, quatro e meia da manhã à frente na popa do barco, com o motor em baixo em posição de trabalhar, quando uma Lontra sobe pela coluna do motor, vem ter comigo à frente, pega num peixe, mergulhou e lá foi embora, toda satisfeita por me ter roubado o peixe. Confesso que quando ela vem de lá para cá ter comigo, fiquei assim um bocado, sem reação e sem saber o que fazer, fui mesmo apanhado de surpresa, mas que foi uma situação insólita, isso, foi”, concluiu, rindo-se agora da cena, quando a conta a alguém ou quando se lembra dela.

Não podíamos terminar sem agradecer a este simpático casal a forma como nos recebeu em sua casa, abrindo-nos a porta e contando-nos a história de vida, duma profissão que, infelizmente, está em vias de extinção. Para quem esteja interessado na compra de peixe do rio, já limpinho, pronto a temperar, podem fazer a sua encomenda através do telemóvel 918 318 100

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