Em
O Comércio de Baião

2024/12/05

A “ROSINHA DO BOZO” COM 94 ANOS AINDA SE SENTA AOS COMANDOS DA SUA 4L QUE A LEVA ONDE PRECISA DE IR

Destaque

Maria Rosa Anselmo, conhecida por todas as pessoas por “Rosinha do Bozo”, reside na Rua que lhe deu o apelido, no lugar das Boscras, em Ovil, Baião.

Completou no passado dia 10 de novembro, 94 anos de idade, que, diga-se em abono da verdade, não aparentar. É viúva de Joaquim Pinto Ribeiro e mãe de duas filhas, a Maria da Luz e a Lucinda Fernanda.

Com uma memória brilhante, lembra-se de tudo o que passou na vida, foi uma das primeiras mulheres, nestas redondezas, a tirar a carta e conduzir um trator nas tarefas agrícolas e ainda se senta aos comandos da sua Renaut 4L, que está sempre pronta a levá-la onde precisa de ir.

Esta “jovem” senhora recebeu-nos em sua casa duma forma muito simpática e disponibilizou-se para falar das suas memórias, o que desde já muito agradecemos. Com uma jovialidade e prontidão impressionantes nas respostas, lá nos contou alguns episódios da sua vida de trabalho, que a seguir partilhamos com os nossos leitores. 

A Rosinha começou por nos traçar o que foi a sua vida “Nasci nesta casa, no dia 10 de novembro de 1930, fiz recentemente 94 anos. Nesse dia tive cá a minha família toda, só menos o neto, que me telefonou dos Estados Unidos e perguntou-me o que tinha feito de comida ao almoço. Disse-lhe que tinha feito o costume, anho com batatas assadas, arroz do forno e bolo, do outro lado ouvi, tive pena de não estar à tua beira, respondi, quando vieres, eu vou fazer novamente este almoço que é um almoço antigo que se usava muito para toda a gente, no dia das festas”, dizendo-nos que aprendeu a cozinhar muito bem.

“Trabalhei muito, primeiro aprendi e trabalhei na costura, tirei o corte de modista, fiz muitos vestidos de noiva e trabalhei para gente rica e gente pobre”.

Revelou-nos que casou muito nova “Casei com 16 anos, sabe que antigamente os casamentos eram assim, muito cedo. E a minha mãe tinha muito interesse numa pessoa que viesse viver para aqui, por causa do trabalho” adiantando que se a sua mãe não tivesse metido o nariz era capaz de ter saído daqui para fora “ter casado com uma pessoa que tivesse um emprego fora. Mas ela não aceitava ninguém porque tinha o interesse do trabalho. Não era o interesse do meu bem-estar, era o interesse do trabalho e já sabe, se fosse uma pessoa com emprego, não a vinha ajudar e, ainda por cima, tirava-me daqui, pois tinha que acompanhar o meu marido”, referiu a nossa entrevistada, que continuou “Tínhamos muito trabalho, muita terra, mas eu trabalhava na costura. Entretanto morreu a minha mãe que se chamava, Conceição Pereira da Costa, e ao cabo de nove meses, morreu o meu pai, Joaquim Pereira Anselmo. Fizeram-nos muita falta. Ainda arranjamos um criado para nos ajudar, um filho do Raúl de Matos, que esteve aqui, mas depois foi embora, tivemos de nos despachar de outra maneira. Houve muitas pessoas que nos ajudaram, tínhamos quase diariamente, oito ou nove pessoas, a lavoura era muito grande, era costume termos oito carros de milho e vinte pipas de vinho. Lembro-me bem do meu homem a fazer o vinho e eu a bombeá-lo para as pipas, ainda não tínhamos motor, só veio mais tarde”.

Foram tempos difíceis, onde imperava o trabalho duro na vida das pessoas “Tínhamos quatro vacas, era trabalho a mais para mim e para o meu homem. Resolvemos vender umas, mas ficamos com outras”.

Para tentar minimizar a situação a Rosinha, meteu mãos à obra e se bem pensou, melhor o fez “Então tirei a carta de trator e veio o trator, trabalhei oito anos com ele. Tinha muitas pessoas amigas, todos os colegas, eu era só mulher, no meio daquela gente toda, mas era muito estimada por todos os tratoristas, quando estava enrascada, ou quando me encravava com o trator em qualquer sítio, ou me enterrava, tinha sempre gente que me acudisse”, salientou.

“Um dia fizemos a vessada da vinha, e andaram aqui os de Carvalho de Rei, oito pessoas, cortaram o milho e desfolharam-no todo. Eu pus lá o trator e eles encheram a traseira. Peguei nele, até meio do caminho veio, chegou lá e começou a fazer pópópópó e já não andou mais. Como é que ele podia andar, com uma carga daquelas. Telefonei ao Rodrigo, ele veio e estava ali um senhor de Aldeia Velha com um trator, foram precisos três para tirar o meu para cima. Vimos que não foi nada do trator, mas sim a carga que era demasiada. Eram todos muito meus amigos. Quando eu chegava com um trator de lenha à Câmara, quando se faziam cortejos, quando passava e viam que era uma mulher, todos me batiam uma salva de palmas. Ficava toda contente, porque aqui não havia mais nenhuma mulher a conduzir tratores”, narrou com satisfação.

“Continuamos a fazer a terra, era muita lufa, esses de Carvalho de Rei ajudavam-nos e quase sempre eram cinco ou seis mulheres diárias aqui, enquanto não desfolhasse o milho. Ainda tinha gado quando deu ao meu marido um AVC. Fomos logo para o doutor Silva, que lhe disse, vai já para o hospital, que isto é um AVC e ele tem que ir de imediato para Amarante. Estava lá o doutor Acacinho,  mandou-nos logo e ele ficou lá internado”.

Mas a vida não dava tréguas “Levei sempre muito trabalho a cozinhar e a levar de comer ao campo, tinha que ser à hora, para as pessoas que andavam a trabalhar comerem, para reporem as energias. Naquela altura às nove horas tinha que estar o almoço no campo, geralmente sopa e bacalhau frito, quando fosse uma hora tinha que lá estar outro apresigo, era sempre assim, tinha de se tratar muito bem o pessoal. Umas vezes eram dos Loivos, de Matos, de Outoreça, de Ervins, da Seara três raparigas que trabalharam aqui muito, eram uns amores, umas de Queimada, a que tem agora a frutaria em Baião, ela e uma irmã que está casada em Chavães, e mais duas, eram quase sempre quatro diariamente, desde as vessadas”, conta.

Questionada com que idade é que tirou a carta de trator disse “Tirei a carta com quarenta e tal anos e foi muito exigente, porque foram os engenheiros de Braga da Pecuária que vieram aí, e eram muito exigentes. Era naquele tempo de fazermos o exame com a mesa grande, com os carrinhos todos, ambulâncias, camiões, tínhamos de dizer por onde passava. Mas também tivemos muitas lições”.

Quando deixou de andar com o trator, porque eles precisavam dele na quinta, alguém de quem não se recorda disse-lhe, tire, mas é a carta e compre um carro, porque lhe vai fazer muita falta “E lá fui eu para a escola de condução, falei com o senhor Domingos, foi ele que me ensinou tudo. Tirei a carta e fiquei bem. Quando fui fazer o exame, encontrei lá um engenheiro de idade, que tinha vindo de Angola, uma pessoa de barbas muito bem-apresentado. Agarramo-nos depois a conversar, cheguei para além de Paredes e eu disse, senhor engenheiro, fazia o favor de me dizer por onde vou, porque eu nunca vim para aqui e não conheço nada. Não se aflija, siga em frente, vire à direita, à esquerda, cheguei lá a um sítio que era uma igreja e ele disse, meta à direita, depois à esquerda, faça a inversão de marcha, pronto, fiz tudo. E depois virei o carro e ele disse, saia fora. Agora entra o seu colega. O meu colega, que ia também para fazer exame, foi para a frente e eu vim para o pé do engenheiro. Olhe, começamos a conversar e ele perguntou-me o que é que eu fazia com o trator, disse-lhe, olhe, à noite vou com o meu marido, ele gosta muito de sacudir o porco que vem ao milho e vou no trator. Agarramo-nos a conversar a fim do porco, ele a contar-me que tinha matado um em Angola, depois já não foi um engenheiro, foi um amigo”, relatou a Rosinha.

Com a carta na mão estava habilitada para conduzir automóveis, só que precisava de comprar um carro “Fomos comprar ao senhor Dias um carro. Escolhi um carrinho todo jeitoso e mais o meu homem, mas ele disse, olhe agora o carro está todo engraxado, mas não dura nada, tenho ali uma Renault 4L que está muito boa. Comprei-lhe a 4L. Fomos, então, experimentá-la de Campelo a Vilares e deu-me muita graça porque o Dias, ia ao pé de mim, mas ia cheio de medo, tenho a certeza que ia, mas lá foi. Virei em Vilares e lá viemos embora nela e já a tenho há uns poucos de anos. Não corro muito, apesar de até dizerem que eu corro bastante, mas não, vou sempre devagar e habituei-me bem a ela. Tenho-a aqui à porta, está sempre pronta para eu ir aonde preciso. Ainda no domingo fui à missa e faltavam 4 minutos para começar, fui num instante, quando lá cheguei como não tinha onde estacionar, deixei-a mesmo no meio do adro. Quando acabou a missa peguei nela e vim-me embora”.

Mas, como se costuma dizer, um mal nunca vem só “O meu marido ficou doente, com um AVC que lhe deu e que lhe repetiu, até que ficou acamado, durante quatro anos. Não lhe faltou nada, porque tinha com quê e tinha pessoas a ajudar-me, acabando por falecer em 2015”.

Como sempre, a Rosinha e quem a conhece sabe que foi sempre uma mulher de armas “Um ano ainda aguentei a fazer o trabalho, mas depois desisti, ficou de velho a terra toda, está tudo abandonado. Agora, como dizem as minhas filhas é tempo de parar um bocadinho, a lufa que levei”, desabafou com tristeza, afirmando “Gosto muito de um quintal que tenho para ter batatas, feijão, couves, tronchudas, alfaces e estas novidades da época, porque não sou pessoa de parar e estar sem fazer nada. Depois trouxe a máquina de costura para aqui, fazia às vezes uns biscates, uma coisinha, muito simples, porque faz-me diferença estes dois dedos a trabalhar. Eu tive uma embolia pulmonar, estive internada no hospital de Penafiel 20 dias, podia ter morrido, ainda estive nos cuidados intensivos, tive sorte, trataram-me muito bem, eu também não incomodava ninguém, só chamava para ir à casa de banho porque não queriam que fosse sozinha, não me tinha em pé. Foram todos muito meus amigos”.

Como já dissemos esta senhora foi sempre, multifacetada, e sempre disponível para ajudar o próximo, contou-nos que quando houve a febre asiática, aprendeu a dar injeções com o doutor Acácio de Ervins “Depois corri pelos lugares a dar injeções a esta gente toda, que estava tudo de cama. Ia a Vilarelho, a casa dos Saraivas que estavam de cama, vinha pelo Castanhal, vinha ao Cima da Eira, corria tudo. Todas procuravam a Rosinha que dava as injeções de penicilina. E sabe que aquilo era uma doença contagiosa, chegava a casa às 10 horas da noite. Nunca apanhei doença nenhuma, fica a saber, e tinha casas em que era obrigada a comer qualquer coisa e sabe Deus o que me custava e nunca tive essa febre nem a minha família, o meu marido e as minhas filhas. Diga-se, que foi uma recompensa de Deus”.

Repetiu com alguma frequência que nunca teve nojo dos velhos “Fui muito amiga dos meus sogros o João Pinto Ribeiro e a Joaquina da Conceição Miranda, mas eles também eram muito meus amigos. A minha sogra nunca me tratou, senão por menina. Portanto, quem bem trata, bem recebe, era a mãe do meu homem. Se visse uma pessoa com necessidades, dizia-lhe logo se precisava de ajuda, disto ou daquilo. Mas temos que estimar as pessoas, para sermos estimados. Alguns cuidam que são o diabo e não se enganam, quando chegava à porta de alguém, era sempre bem servida”, lembrou.

Tem muitas recordações da vida, ainda por cima, como já foi dito, com uma memória privilegiada, lembrou-se de uma peripécia que muito me sensibilizou e me fez recuar nas minhas lembranças a esse tempo, que muito lhe agradeço, ter-me contado da amizade e a história sobre os meus falecidos e queridos pais “Os seus pais eram muito meus amigos e eu deles. Olhe, havia ali um chaveiro que foi o seu pai que o fez e mo trouxe. Uma vez fui lá com o trator, levar umas pipas para ele arranjar, subia lá não tinha medo nem nada, apesar daquele caminho ser muito apertado. Quando as fui buscar, vinha com as pipas embora, o seu pai ajudou-me a carrega-las e a amarrá-las, mas, quando cheguei cá em baixo, subi com uma roda por cima de umas pedras, fugiram-me as pipas, foram pela estrada abaixo, olhe, eu podia causar um acidente tremendo. Se visse as pipas a correr, elas chegaram ao cemitério a rolar. Os seus pais vieram em meu auxílio e lá carregamos as pipas outra vez para vir embora, foi um valente susto que apanhei. Passado uns dias fui a uma reunião dos Vicentinos, a que pertenço por ser Vicentina, era com o padre João, estava lá a falar sobre aquele bocado de terreno e o muro quando eu disse, aquilo de quem é, tendo o padre respondido que pertencia à igreja. Então não me contive e disse-lhe, eu é que na altura não tinha um ferro, porque se eu trouxesse um, aquelas pedras que estavam lá no caminho, estavam todas na valeta. Eu podia ter matado muita gente e até me matar a mim. Lá tive que contar o sucedido e lá compuseram as pedras”, bons tempos, desabafou.

As lembranças saem-lhe em catadupa sobre outras coisas que lhe aconteceram, muitas histórias “Outra vez, o meu homem foi para o Vale de Forno com dois homens cortar lenha e mato, eu fiquei para levar o comer e levar o trator para carregar o mato e a lenha. Fui lá abaixo, eu tinha-o na vacaria, mas ele não pegou. Larguei por ali acima ter com o Toninho Carvalho, o homem da Fatinha, ele tirou a bateria do dele e o filho pegou nela às costas e foi lá pôr-me o trator a trabalhar, alertando-me, olhe que você nunca o deixe parar, senão fica no monte. Tive-o sempre a trabalhar e disse-lhes, vocês carreguem-me o trator para eu ir embora, porque a bateria estava descarregada. Tive assim, muitas peripécias. Outra vez, eu fazia muitos jeitos com o trator às pessoas que precisavam, mas depois vinham-me ajudar. Então, fui a Treleiteiro lá para uns campos, com a mulher que me pediu para lhe trazer umas espigas do Outeiro da Préguda, aquilo era estreitinho por lá fora, só que, queria vir embora e não podia, cheguei a pensar que ia parar em cima da casa do Albino, mas depois lá arranjei a virar e disse, nunca mais aqui torno”, contou divertida.

Perguntada se era muito destemida, anuiu que sim, afirmando “Sempre fui muito amiga dos moços, porque eles iam comigo, dois ou três catraios que tinham para aí uns 12 anos, diziam, nós vamos com a Rosinha, nós vamos com a Rosinha, pronto, lá os deixava ir comigo, pois para além da companhia também me ajudavam a carregar e a fazer tudo. Ia sempre com o credo na boca, que eles não se aleijassem. Mas a malta (moços) gostavam muito de ir comigo”.

Disse ainda que “Estive casada 69 anos, com o meu Joaquim, tivemos altos e baixos, como todos os casais, mas fomos sempre cobertos de trabalho, o meu avô, António Pereira Anselmo, o meu homem e o meu pai, faziam muito trabalho. Depois, começaram a falhar e nós ficámos sozinhos. Se o meu homem fosse de acordo que deixasse um ou dois campos de velho, podíamos viver muito folgados, mas não, assim andávamos sempre cobertos de trabalho, mas não nos faltava nada”.

A Rosinha ainda se lembra de, alegadamente, no alto do monte de Ovil ter aparecido Nossa Senhora a um pequeno pastor, de nome Bonifácio, sobre isso respondeu “Lembro-me de tudo, tinha 7 anos. O meu pai chegou a casa e disse que, apareceu uma Santinha, a Santa Quitéria da Guia, foi como o moço disse a primeira vez, Santa Quitéria da Guia, depois é que lhe tiraram o nome de Santa Quitéria, como havia Santa Quitéria em Felgueiras.  Então começou logo um grande rebuliço de pessoal para ir lá ver onde é que a Nossa Senhora apareceu. Depois aquilo começou a animar tudo. E foi verdade, houveram alguns milagres. O rapazinho de nome Bonifácio, que morava em Vilarelho, disse que ia aparecer o andor lá em cima na Santinha, em tal dia, às 10 horas da noite. Quem quisesse ver, que visse, porque o Barbosa de Campelo tinha uma filha doente, que era a D. Lininha, prometeu que se a filha sarasse ia de joelhos de Campelo ali. Uns diziam que era mentira, outros diziam que o moço era desta maneira e daquela. E depois ele viu na Santinha, às horas que o moço disse, como que fosse o andor de São João Batista. Aquilo durou tanto tempo no ar tal como o moço anunciou, ninguém lá ia fazer aquilo. Também quando ele disse que iam aparecer umas estrelas a fugir, a minha mãe e os que lá estavam também viram e o pessoal deu em ir para lá, era tanta gente. Amarante estava ali em peso, do Carvalhal, da Ponte, de vários lados, traziam grandes merendeiros. Nossa Senhora disse que queria uma capela e o pessoal tratou logo de a fazer. Isto aconteceu no tempo do padre Francisco (Chico), que era o padre da freguesia e era contra aquilo, queria as coisas de outra maneira”.

Conforme disse foi só o Bonifácio, um miúdo pequenino que viu a Senhora “Uma coisa é certa, ele estava lá e andavam todos com o gado. Eu não tenho interesse nenhum, mas sei que foi assim, vivi isso, andavam todos com o gado e estava a chover a valer e o moço tinha apenas uma saca de serapilheira pela cabeça feito um carapuço. Os outros estavam todos molhados, encharcados e o moço estava enxutinho, era muito inocente, portanto, não eram coisas inventadas por ele ou mandadas dizer por alguém, não eram, ele viu fosse o que fosse. Então houve pessoal que começou a fazer novenas de todos os lugares, eu ia sempre, era o anjo da guarda, porque tinha um cabelo muito grande. Vinham novenas lindíssimas, com as figuras todas, como agora se vê em algumas procissões, quando chegavam à Pedrinha do Sol, para lá da Fonte do Mel, onde há aquele penedo grande, é onde o sol dá primeiro e todos paravam ali. Depois formavam uma procissão com as crianças e ia-se a cantar dali até onde está hoje a capela de Nossa Senhora da Guia. A capelinha foi feita pelo pessoal, todos que tinham vacas acartaram pedra, todos trabalharam e arranjaram dinheiro para tudo, até para um altar muito lindo que foi feito naquela maré e que modificaram mais tarde. Ainda há muita gente que chora por aquele altar, eu lembro-me disto tudo”, afirmou.

“O Bonifácio era pequenino, ainda não sabia pegar no terço, vinham buscá-lo para o pôr na frente das procissões. Eu acredito piamente que foi verdade, depois se ele disse o contrário não interessa e a ele correu-lhe sempre bem a vida é porque foi ajudado de alguma maneira. Dizia o meu avô que houve um senhor daqui ele dizia quem era, que ia a caminho de Chã da Parada e que lhe apareceu lá uma menina, naquele sítio onde puseram as alminhas e que falou para ele e que iam dois na frente dele, um rapaz e uma rapariga, como de primeiro todos iam para o monte, e que essa menina de manto azul disse: olha, vamos conversar como aqueles dois que vão ali a conversar. Ele teve medo chamou pelos que iam à frente, e a menina desapareceu por completo. Há coisas porque o meu avô não era de ditos. São coisas que me lembra e o meu avô também era uma pessoa crente, morreu com 80 anos e ia sempre dar um pulinho a Nossa Senhora da Guia. Lembro-me dessas coisas todas, mas alguma coisa divina há. Houve outra pessoa que se levantou de noite e veio à porta, olhou para a Senhora da Guia, essa pessoa não era mentirosa, mas calou-se bem calada para que não dissessem que ela era maluca. Essa viu exatamente a Cruz da Páscoa que lá estava a brilhar, chamou pelo homem, mas o homem não viu nada”, concluiu sobre o que se passou na Santinha.

“Mas dantes o pessoal era muito divertido faziam-se desfolhadas à noite, vinham todos ajudar e ao resto o que comiam eram umas sardinhas, pão e vinho e, outras vezes, só aguardente. Quando deixei de trabalhar aqui, ia trabalhar para a Casa de Ervins na costura, às vezes estava lá quatro dias ou cinco, vinham-me trazer a casa que eu ainda não tinha carro e eram muito meus amigos, quando precisávamos de médico era tudo de graça. Fiquei contente de trabalhar não estou arrependida, mas o que me cansava muito era ter de levar o comer ao campo, principalmente quando era para 15 ou mais pessoas, lá ia com o açafate à cabeça e ele mandava-me depois mais tarde, uma mulher para me ajudar, mas tudo era trabalho e a gente queria que as pessoas fossem bem servidas”.

A terminar, a Rosinha do Bozo, revelou-nos mais uma das atividades que desenvolveu durante mais de duas décadas, na igreja de São João de Ovil, com muito amor “Fui zeladora do altar do Santíssimo Sacramento, durante 20 anos, deixei quando estive doente, depois melhorei, a Fernandinha de Queimada tomou conta e está muito bem entregue, mas, eu tinha um amor por aquilo que você nem sabe, o que chorei quando deixei ficar, sentia-me bem lá, parecia que tinha alguma coisa a dar-me a mão. Não havia toalhas, eu fiz umas poucas de toalhas, outras deram-mas, outras mandei fazer e tive uma que me ficou por 140 contos, linda, linda, como tudo”, concluiu.

Muito mais havia para contar, mas estamos, como sempre, limitados ao espaço. Foi um prazer enorme falar com esta minha conterrânea, conhecida e amiga desde que era criança, restando-me desejar-lhe muita saúde e muitos anos de vida.

José Arlindo de Azevedo

 

 

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