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O Comércio de Baião

2025/05/12

JOSÉ PINHEIRO HERDOU DO SEU AVÔ MATERNO QUE NÃO CONHECEU O DOM E A HABILIDADE PARA FAZER ARTESANATO

Destaque

José Pinheiro, nasceu no lugar da Porta, e reside atualmente no lugar de Valbom, da União de Freguesias de Ancede e Ribadouro.

Dotado de uma habilidade fora do normal, para o artesanato, seja em madeira ou em qualquer outro tipo de material, se pensar em fazer qualquer peça, é feita com toda a certeza. Para nos falar um bocadinho sobre os seus dotes recebeu-nos em sua casa, não só nos mostrou o espólio que tem, como nos informou de como começou a ter gosto pelo artesanato.

Parafraseando a obra “Esteiros” do escritor nosso conterrâneo, Soeira Pereira Gomes, podemos afirmar que «Este foi um dos filhos dos homens que nunca foram meninos». Isto porque, com apenas 11 anos de idade, depois de concluir o exame da 4.ª classe, teve que ir trabalhar numa oficina de cesteiro, que funcionava nas ruínas do convento de Ancede.

“Na altura fazia-se aqueles cabazes para a fruta. Os meus dois irmãos eram cesteiros e eu fui para junto deles aprender a arte. Trabalhava das sete da manhã às sete da noite. Ainda lá andei uns quatro ou cinco meses, não gostava muito daquilo, mas fiquei sempre com aquela ideia de cesteiro”, revelou, José Pinheiro.

Depois enveredou pela profissão de trolha, profissão essa, em que se especializou e desenvolveu durante a sua vida ativa.

Mas, cedo deu conta do dom que o acompanhava “Quando comecei a pegar numa navalha, em novo, para aí com 17 ou 18 anos, habituei-me a fazer

algumas peças em madeira e noutros materiais, que me saíam bem. Foi nessa altura que descobri que tinha herdado essa habilidade do meu avô”, confessou.

Segundo disse “Isto já vem do tempo do meu falecido avô, que os antigos me contaram, eu não o conheci. Ele era pedreiro e nas pedreiras pegava numa navalhinha, e começava a fazer nas bengalas umas caretas e outras coisas que ele fazia e que lhe saíam naturalmente, portanto isto já é de família”.

Mas não é só habilidade para o artesanato, contou-nos também “Nasci aqui em Ancede, no lugar da Porta, numa casinha pequenina e velhinha, mais tarde fiquei com ela, dei o dinheiro aos meus irmãos, restaurei-a, tem vindo muita gente para a alugar, mas eu não alugo. Gosto de ir lá de vez em quando, porque foi onde vim ao mundo”.

Continuou dizendo “depois fui para o Ultramar, para o norte de Moçambique, no Distrito de Cabo Delgado, onde vi os ‘macondes’, um grupo étnico bantu, que trabalhavam muito bem o pau-preto. Passava tardes e tardes a vê-los trabalhar, porque gostava. E admiro todo aquele indivíduo que pega numa coisa qualquer, improvisa e fazem coisas maravilhosas, mesmo sem grandes ferramentas”.

Da mesma forma, José Pinheiro, utiliza também ferramentas artesanais, feitas por ele como por exemplo “as serrinhas, para serrar a madeira, e outros utensílios é tudo feito por mim. E comecei-me a habituar. É onde passo o meu tempo e gosto. Já há uns anos que faço isto”.

Questionado sobre se era necessário ter muita paciência, respondeu “Ui! é preciso muita paciência. Então pedem-me para fazer garrafas com o nome deles. Tenho ali umas, com o barquinho e as pipas, tudo metido lá dentro. Às vezes estou ali para montar uma garrafa, uma ou duas horas. Primeiro faço o improviso daquilo tudo cá fora. Depois é que monto lá dentro. Quando não me calha bem, descanso, ponho para o lado e, passado um bocado, pego naquilo e é logo. As pessoas interrogam-se, como é que isto vai parar ali dentro, outras perguntam, como é que isto é possível?

Explico que é tudo entalhado, a garrafa pode virar de pernas para o ar, que não larga as peças. Aquela tem cinco pipas, com o barco rabelo, dividido em dois porque não cabia inteiro dentro da garrafa. Tenho uns arames, depois com os arames coloco as peças dentro”.

Salientou que em certas alturas fez algumas peças por encomenda que lhe pediam, mas que agora não faz, porque s pessoas não imaginam o tempo que leva, por exemplo, a fazer e a introduzir os artigos dentro da garrafa “fiz muitas, mas essa garrafa levou-me cerca de três dias para fazer, isto para ganhar  35 euros. Não dá, para vender por esse preço, também já não tenho aquele apetite para fazer. Mas, de vez em quando, lá me pedem e a minha neta vem-me pedir para fazer um trabalho lá para a escola e eu acabo por lhe fazer a vontade”.

José Pinheiro trabalhou muitos anos na Câmara de Baião, e, conforme disse, quando lá trabalhava não tinha tempo para fazer nada “agora, depois que me reformei comecei a fazer umas coisas. Como já disse em pequeno, quando acabei a escola, fui para cesteiro. Tanto é que tenho aí uns cestos, umas canastras e essas coisas todas. Tive sempre aquela ideia e tenho a ferramenta de cesteiro. Há tempos comecei a fazer um cesto, a ver se ainda conseguia e fi-lo com a minha habilidade. Tenho também feito umas escadinhas para meter nas garrafas, fiz uma nora que para mostrar à juventude que agora não sabem como é que se tirava a água dos poços, que era com um burrinho a andar à volta dos poços. O carro de bois, o arado, a grade, a enxada, o ancinho e outros utensílios utilizados antigamente na lavoura. Tenho ali, outro carro com as vaquinhas e com a pipa e vários paliteiros em pau-preto. Fiz um “tear” em miniatura, a minha sogra em tempos foi tecedeira. Comecei a faze-lo e ficou tal e qual, inclusive dá para tecer, à sua dimensão, mas tece”, afirmou o artesão.

Com a sua simplicidade explicou que, efetivamente é uma pessoa muito habilidosa, talvez tenha sido a herança deixada pelo seu falecido avô “eu não o

conheci, chamava-se Manuel Pinheiro. Os antigos dizem-me, tu és tal e qual o teu avô materno. O paterno era lavrador, o materno era pedreiro e com jeito para o artesanato”, salientou.

À pergunta se já alguma vez expôs os seus trabalhos, José Pinheiro, afirmou “Não, não. Aqui há uns anos, o senhor Guedes, pediu-me para ver se fazia aqui uma exposição, mas na altura ainda tinha pouca coisa. Depois houve aqui uma exposição, durante o “Maio Cultural” e eu participei, mas na altura com poucas peças. A partir daí, comecei a fazer mais uma série de variedades e agora tenho muito mais. Só para mostrar, porque para vender não vendo mais nada. Posso dizer-lhe que vendi muitas coisas, muitas garrafas com as escadas, com o nome deles lá dentro, mesmo aquelas letrinhas, tudo em madeira de carvalho. No famoso, deram-me uma garrafinha larga, altinha, com ela fiz uma escadinha em caracol, com o nome do meu neto e uma bola de futebol no cimo e o nome dele em toda a volta. Foi a última coisa que fiz, a partir daí já não fiz mais nada. Vou-me entretendo”, concluiu.

A terminar resta-nos agradecer a amabilidade com que José Pinheiro e a família nos receberam em sua casa e nos mostraram esses fenomenais trabalhos. Parabéns!

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