A Quinta de Eiras foi, este domingo, ponto de encontro para dezenas de pessoas que se reuniram a partir das 15h00 no Magusto Solidário promovido pela Associação Criança d’África, evento que uniu música, tradição e uma forte mensagem de solidariedade internacional.

A tarde abriu com um momento musical do pianista Nuno Ventura de Sousa, seguido pelas interpretações vocais de Luís Sousa e Paulo Sousa, que trouxeram ao público um repertório marcado pela emoção e pela partilha. A festa ganhou ainda mais vida com a atuação da Tuna dos Amigos de São Pedro de Outoreça, conhecida pela energia contagiante e pelo compromisso com a música popular portuguesa.

Como manda a tradição, não faltaram as castanhas assadas, servidas num ambiente familiar que convidou à convivência entre vizinhos, famílias e visitantes.
O Magusto Solidário teve como objetivo angariar apoio para os projetos da recém-formada Associação Criança d’África, fundada por Liliana Geada, nutricionista e missionária voluntária. Em entrevista, Liliana partilhou que a sua paixão pela missão internacional nasceu precisamente em Baião, através do incentivo do Padre Mário, que desafiou a comunidade a olhar além-fronteiras.

“Foi aqui que percebi a importância de conhecer outras realidades e de devolver ao mundo aquilo que aprendemos. Nas missões internacionais não damos só — trazemos muito também”, contou.
Depois de várias viagens a Moçambique, Liliana sentiu necessidade de estruturar um apoio mais consistente. Daí nasceu a associação, focada em promover o estudo de crianças moçambicanas, sobretudo raparigas, que frequentemente enfrentam desigualdades no acesso à educação.
“Há meninas que nem chegam a ser colocadas na escola. O nosso propósito é que possam estudar mais tempo no país delas, porque é lá que faz sentido crescerem e construírem futuro”, sublinhou.
Enquanto nutricionista, Liliana testemunhou situações de desnutrição infantil severa, mas também histórias de recuperação graças ao trabalho de missionárias leigas que vivem exclusivamente de donativos.
“Vi irmãs que deixam de comer para poder comprar leite para as crianças. Fazem muito com quase nada. É impossível ficar indiferente”, relatou.
Além da educação, a associação atua nas áreas de aleitamento, nutrição infantil e neonatal, procurando garantir condições básicas de sobrevivência e crescimento saudável.
O compromisso solidário estende-se também a Portugal. Liliana revelou estar a desenvolver um projeto com idosos, ensinando-os a criar bonecas feitas de meias, em parceria com a ONG Meias do Mundo. Estas bonecas são depois entregues a crianças em África, transformando materiais simples em sorrisos.
“Se tiverem meias, botões, linhas ou agulhas que já não usam, são todos bem-vindos. Nada é pequeno quando chega às mãos certas”, apelou.
Durante o evento, foram ainda promovidas rifas com prémios oferecidos pela empresa Lopes e Lemos, gesto que Liliana fez questão de agradecer publicamente.
Emocionada com a adesão da comunidade, a fundadora da Criança d’África garantiu que este foi apenas o início de um caminho maior:
“Estou muito feliz por vos ter aqui. Acreditem que será a primeira de muitas iniciativas. O importante era dar o pontapé de saída.”
Liliana deixou ainda o desejo de, no futuro, conseguir levar jovens de Baião a Moçambique, para que vivenciem a realidade das crianças que chegam a caminhar horas para ir à escola.
“É uma experiência que transforma vidas e que quero muito passar aos nossos jovens.”
O Magusto Solidário terminou em clima de festa, união e esperança, celebrando uma comunidade que acredita no poder de ajudar quem mais precisa