Em
O Comércio de Baião

2025/12/07

OPINIÃO: O homem por quem Álvaro Cunhal e toda a população de Alhandra choraram

Destaque

Foi no ano de 1949 com apenas 40 anos que faleceu, na clandestinidade , vitimado por doença incurável, sem beneficiar de auxílio médico adequado, o nosso querido conterrâneo Soeiro Pereira Gomes, o meu querido camarada Soeiro Pereira Gomes, o baionense que elevou o nome de Baião aos píncaros, graças à sua obra – prima Esteiros e à sua estrénua luta, desenvolvida na clandestinidade, em prol da Liberdade do Povo Português, sendo hoje dezenas e dezenas as placas toponímicas que honram o seu nome por todo o país, especialmente no sul.

Recordar Soeiro neste dia 5 de dezembro, em que faz 76 anos que o valoroso cidadão baionense partiu para a eternidade, é de justificada justiça.

No seu livro Esteiros, Soeiro Pereira Gomes retrata a miséria, a pobreza, a repressão e a ignorância em que viviam os portugueses antes do 25 de abril, particularmente as crianças que eram obrigadas a desenvolver trabalho infantil ao invés de poderem frequentar legitimamente a escola, bem como fruir do direito de serem crianças, beneficiando de um desenvolvimento harmonioso e integral.

Soeiro Pereira Gomes foi, assim, um dos primeiros escritores portugueses a preocuparem – se seriamente com os direitos das crianças: o direito à escola para todos, o direito a brincar, o direito a crescer livre, feliz e segundo as etapas lógicas do desenvolvimento da personalidade.

Personagens como Gaitinhas, Gineto, Coca, Malesso, Sagui, Guedelhas, Maquineta, Pirica, etc., são personagens inolvidáveis, quiçá imortais.

É impossível não nos emocionarmos com elas.

Neste livro, “ uma pequena obra – prima” nas palavras de Urbano Tavares Rodrigues, para além da sua intrínseca qualidade literária sobressai uma vigorosa denúncia do regime fascista, particularmente da violência exercida sobre as crianças, forçando – as a serem vítimas, cedo de mais, da exploração laboral que tão cruamente era praticada no sobredito regime político de tão triste memória. A obra Esteiros, cuja primeira edição foi ilustrada por Álvaro Cunhal, adverte também para a necessidade de melhores condições de saúde, pressupondo a criação de um serviço nacional de saúde avant la lettre, e de melhores condições de habitabilidade, denunciando ainda a deficiente proteção da população ribatejana contra as cheias do Tejo. No seu romance Engrenagem, Soeiro põe a nu a exploração e a repressão que padecia o Povo Português naqueles tenebrosos tempos. Nos Contos Vermelhos , a repressão é também denunciada severamente , enquanto é abordada a luta clandestina daqueles heróis anónimos que lutavam pela Liberdade.

Era sua pretensão também escrever livros para crianças e uma obra sobre a terra que o viu nascer, Baião. Infelizmente, a morte prematura não lhe deu tempo para isso.

As cartas que a sua mulher, a compositora e escritora Manuela Câncio Reis, lhe escrevia secretamente para a clandestinidade estão contidas no volume " Eles vieram de madrugada". Manuela também escreveu uma biografia sobre Soeiro Pereira Gomes intitulada A Passagem.

Soeiro Pereira Gomes, amigo e colega do irmão dela, nos tempos em que estudou em Coimbra, foi para Alhandra atraído pelo amor da futura esposa por quem se havia apaixonado.

Que bela história de amor que foi abruptamente interrompida pela repressão política e dureza da clandestinidade.

Soeiro Pereira Gomes era, de facto, um homem raro, um homem especial. Um grande baionense.

Soeiro Pereira Gomes, que foi membro do Comité Central do PCP, é, foi e será um dos maiores baionenses de sempre.

É, aliás, o baionense mais honrado toponimicamente em Portugal, são dezenas e dezenas de ruas aquelas que têm o seu nome como topónimo.

É uma honra um homem tão bom e talentoso ter nascido em Baião.

Em 2014, criei uma petição que ainda existe na internet denominada Movimento “ Biblioteca Municipal para Soeiro, Escola Secundária para Eça”, em Baião.

Com a criação desta petição e com a extensa investigação que fiz, verifiquei o que acima refiro, a imensa quantidade de ruas e equipamentos ( como escolas ou bibliotecas) com o seu nome.

Infelizmente, não consegui realizar o meu propósito de que a Biblioteca Municipal de Baião tivesse o nome deste grande escritor baionense, um dos criadores do Neorrealismo Português, natural de Gestaçô, terra de icónicas bengalas, está traduzido em vários países do mundo e em vários idiomas.

Porém, é de salientar que a nossa Biblioteca de Baião tem hoje o nome de um escritor, outro grande escritor baionense, António Mota, cujo nome ( entre outros) já era realçado no próprio texto da minha petição, figurando como uma das hipóteses alternativas plausíveis. Como a Escola Secundária de Baião ainda não tem patrono, criei de novo outra petição para esse efeito e que está em marcha na internet. Ainda não desisti deste propósito. Ainda não desisti que a Escola Secundária de Baião honre o nome do genial Eça de Queiroz, autor d’ A Cidade e as Serras ( hoje mais acertadamente poderia denominar – se Agrupamento de Escolas Eça de Queiroz - Baião).

Gostaria também que o meu concelho honrasse Soeiro Pereira Gomes da forma digna que merece, atribuindo o seu nome ao Auditório Municipal ( pelo seu intenso trabalho associativo, de divulgação cultural, de criação de bibliotecas, de alfabetização dos trabalhadores e de prática de ginástica junto dos operários) ou às piscinas municipais ( já que Soeiro Pereira Gomes foi criador de piscinas para os trabalhadores em Alhandra, onde treinou o melhor nadador português de sempre, Baptista Pereira, vencedor da travessia do Canal da Mancha a nado, e que foi a inspiração para a personagem Gineto em Esteiros).

Eu, pela minha parte, tenho em vista uma outra iniciativa que pretende honrar a memória de Soeiro Pereira Gomes e fazê- lo manter atual e vivo entre os portugueses de hoje. Espero ter esse sonho realizado em 2026.

Alice Pereira Gomes, por seu turno, irmã do escritor e também escritora, casada com o presencista Adolfo Casais Monteiro , merecia também ter uma rua com o seu nome em Baião. Foi ela que traduziu para português a imortal obra de Antoine de Saint-Exupéry “ O Principezinho”, reconhecidamente uma obra universal.

Soeiro Pereira Gomes foi sempre uma figura inspiradora para mim.

Silenciosamente senti – o caminhar a meu lado durante a minha campanha recente para a Câmara Municipal de Baião, enquanto caminhei dezenas de quilómetros, sozinha, e introduzi, sozinha, folhetos da CDU nas caixas do correio com a finalidade de garantir que a CDU (à qual agradeço, especialmente ao meu partido, o Partido Comunista Português, a minha escolha como cabeça de lista às eleições autárquicas)tivesse mais votos e não menos que nas eleições anteriores para a Câmara Municipal, o que veio felizmente a suceder com um ligeiro aumento de votos e de percentagem eleitoral. Foi fundamental resistir em Baião mediante a grande ofensiva da direita e da extrema – direita nos tempos atuais, ofensiva essa generalizada a todo o território nacional.

Quero também dedicar esta minha tenacidade e determinação a todos os baionenses que votaram em mim, que acreditaram no programa concreto e abrangente da CDU, o qual foi divulgado concisamente em folheto próprio e publicitado de modo mais amplo nas minhas entrevistas aos meios de comunicação social, no debate travado com os outros candidatos e na página oficial da candidatura da CDU nas redes sociais.

Agradeço ainda ao homem que homenageio hoje – o grande escritor Soeiro Pereira Gomes, o maior dirigente comunista nascido em Baião-, e cuja generosidade, combatividade, criatividade e lucidez me serviram de balizas para levar o meu projeto, o projeto da CDU, avante, com resultados positivos e sementeira de futuro.

Para tais resultados deve ter contribuído também o mural que pintei, enquanto cidadã, sozinha, apenas com a ajuda do meu filho e um tanto com a ajuda do meu pai, na paragem da Escola Básica de Eiriz, em tributo de Soeiro Pereira Gomes.

Quero agradecer aos alunos o civismo e respeito que têm demonstrado durante todo este tempo pelo mural, mantendo – se praticamente intacto, contrariando as afirmações repetidas de que os jovens são destruidores e avessos à beleza e à cultura. O homem cujo corpo, a caminho do cemitério de Espinho, foi emocionadamente chorado pelo Povo de Alhandra, bem merecia que os jovens de Baião tivessem o bom comportamento que estão a ter para com o mural, já que a sua vida foi uma dádiva total à causa da Liberdade e da conquista de direitos das crianças , dos trabalhadores e do Povo Português, tendo como horizonte a construção de uma sociedade nova e melhor.

Desejo a todos os baionenses um bom Natal e que 2026 seja um ano de muita saúde e de felicidade para todos.

 

Natacha Fernandes

Partilhar nas redes sociais

Últimas Notícias
Baião recebe 2.º Encontro Clube TT “Os Primos” em ação solidária por Diogo Pinto
7/12/2025
OPINIÃO: O homem por quem Álvaro Cunhal e toda a população de Alhandra choraram
7/12/2025
Concerto de Canto Gregoriano iluminou a Igreja do Mosteiro de Santo André de Ancede
6/12/2025
Município de Baião reúne com ULS do Tâmega e Sousa para discutir melhorias nos cuidados de saúde
6/12/2025
Derrocada na Estrada Nacional 108 em Santa Cruz do Douro obriga circular com extrema atenção
6/12/2025
Município de Baião destaca papel essencial das IPSS na Rede Social local
5/12/2025
Município de Mesão Frio leva alunos do agrupamento ao jogo da Seleção Feminina Portuguesa
5/12/2025
AMDT destaca desafios da Serra da Aboboreira em encontro internacional realizado em Santa Cruz do Douro
4/12/2025
PUB